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"Quid est veritas?"

Henrique Chagas

Fui ver o filme de Mel Gibson, após ler inúmeras críticas e acompanhado vários debates sobre o polêmico filme, que foi feito exatamente para ser polêmico. Compartilho da opinião da Lola de que realmente o filme é uma peça fundamentalista e homofóbico.

Também fiquei em estado de choque, pois entendo que o filme não tem nada de cristão. Extremamente sado-masoquista e se funda na dor, na violência e no sacríficio. Talvez a paixão de Jesus tenha sido violenta como representa o filme ou até mesmo pior (o papa disse "é como foi"); mas não foi a "paixão" que fez o cristianismo se propagar por mais de 2.000 anos. Como diz Paulo, o apóstolo, é a ressurreição que fundamenta a fé cristã.

O filme não é católico, pois se o fosse seria universal (em tempo: católico significa universal) e não seria fundamentalista. Pessoalmente, sempre tenho dito que todo bom católico é protestante e todo bom protestante é católico. Se o filme fosse católico não seria fundamentalista e nem homofóbico e sequer daria margem para interpretações anti-semitas.

"Mas “Paixão” não traz salvação nenhuma. Vamos ver: o verdadeiro horror não é se escandalizar com o que fazem a Jesus. É se escandalizar se fazem isso com qualquer um, ponto final, até com um psicopata demente como Barrabás. Ou a pena de morte é aceitável em alguns casos?"

Não Lola, a violência não é aceitável em hipótese alguma, nem aquela das cruzadas ou da inquisição, nem aquela do fundamentalismo islâmico, como é inaceitável a violência praticada nas prisões brasileiras ou nos porões das ditaduras. Pilatos lavou as mãos - não porque fosse bonzinho como colocado no filme, mas porque lhe era conveniente -, todavia, muitos hoje não podem lavar as mãos, que permanecem sujas por sangue inocente.

Há 40 anos implantou-se a ditadura no Brasil e até hoje somos vítimas da violência e da truculência - incorporada pelas organizações militares - e muito sangue inocente manchou mãos, que não podem ser lavadas. Jesus foi vítima inocente da violência do Estado e quantos hoje não sofrem a violência praticada pelo Estado (entendido não somente como o ente público, mas como estado social)?

Mas, para a nossa salvação, Jesus ressuscitou.

[Leia também o artigo de Lola Aronovich sobre o mesmo filme]


Meu amigo Henrique Chagas é conhecido, no universo cultural brasileiro, principalmente como o criador e diretor do belíssimo sítio de literatura Verdes Trigos. Não são muitos os que sabem que ele é também advogado, professor e, acima de tudo, um brilhante escritor. (André Masini)

Contatos: henrique@verdestrigos.com
Sítio Web: Verdes Trigos
Avenida Cel. José Soares Marcondes, 412/802
19020-120 - Presidente Prudente - SP