Casa da Cultura: Literatura, Artes, Geografia e Folclore do Brasil Assine
Gratuitamente
Voltar para o Índice Geral da Seção de Literatura
Literatura
Voltar para o Índice Geral da Seção de Contos
Contos
Página Inicial da Casa da Cultura
Casa da Cultura

Casa da Cultura - Literatura - Contos

A Nação Bicolor

Profº Eli Cezar

Há muito tempo atrás em uma terra distante viveu um povo muito estranho e que tinham o nome de Duascores. Este povo cujas origens vinha de uma miscigenação racial sendo a mistura de uma nação nativa daquele continente e outras duas oriundas de outros continentes em que o mar era o fator limitante. Nesta mistura racial surgiram duas novas sub-raças de humanos que se diferenciavam pela cor da pele, sendo que ambas eram duplas cores.

Seus corpos humanóides eram bastante diferenciados, da cabeça aos pés tinha um divisor de cores sendo um lado de perfil de uma cor branca e o outro lado era negro. Parecia que a natureza os privilegiaram com tamanha façanha e que continha uma harmonia coral. A população também era formada por duas facções 45% dos indivíduos tinham o lado direito branco e o esquerdo negro e que eram chamados de Dirigentes. O restante, 55% tinha o lado direito negro e esquerdo branco e eram chamados de Cumpridores, e isto causava muita insatisfação e preconceito, pois a classe dominadora era a facção de perfil direito branco, ou seja, os Dirigentes. Eles que governavam e ditavam as leis, sempre legislando em beneficio de sua facção. Também era proibido namoro, sexo ou casamento entre as facções, pois as leis eram bastante severa com condenação de pena morte aos infratores.

Jamais os Cumpridores assumiram cargos de direção no governo e tinham acesso aos centros tecnológicos ou a educação superior. O mal estar e o descontentamento eram intensos, pois a classe dominante gozava de luxo e detinha quase toda riqueza produzida.

Apesar de algumas tentativas de revolução e subordinação que foram dizimadas, não houve nenhuma transformação a favor dos Cumpridores. Contudo os anos se passaram, séculos se sucederam até que aconteceu um grande desastre natural, cientistas Dirigentes descobriram que a população estava diminuindo e que se não descobrisse as causas urgentemente em pouco tempo a sua classe iria se extinguir. Fizeram vários ensaios e notaram que também estava acontecendo o mesmo com a classe dos Cumpridores. Era um povo em extinção, segundo os cálculos em três séculos seriam totalmente dizimados. Foram oferecidas grandes fortunas para quem descobrisse a solução. Pessoas de todas as partes procuravam o governo trazendo teses, ensaios e até projetos malucos para o problema. Por se tratar de assunto de garantia de sobrevivência foi permitido até a participação dos Cumpridores aceitando suas sugestões.

Uma velhinha cuja idade já passava a secularidade foi até ao governador dar sua opinião sobre o desavento. Foi recebida e logo que entrou no Palácio foi logo dizendo: A natureza é a mãe das coisas, ela é perfeita, aquilo que fazemos alterando seu curso tem sempre uma contrapartida bastante severa, somos todos irmãos, viemos dos seios da Terra e somos seus frutos. Porque inventamos o preconceito? Qual a razão de uma cor de pele distinguir pessoas? Porque pessoas ricas e outras pobres? E se fôssemos todos cegos como iríamos distinguir a cor racial? Qual os preconceitos iríamos criar? Um pão se faz com trigo, fermento e água, não podemos faze-lo só com o trigo ou só o fermento ou água! Porque não é permitida a miscigenação racial?... Ali estava uma velhinha moribunda falando coisas que os cientistas e ilustrados não tinham pensado. Os Genes das duas facções por razões irracionais dos homens não se misturaram e com o passar do tempo foram se desintegrando. Aquela velhinha cujo conhecimento e sapiência era proveniente de experiência de vida e amor à natureza trazia a solução à questão em pauta. Então imediatamente foi testada a mistura de Genes e ficou comprovado que seria a solução. Ofereceram a velhinha muito dinheiro, mas ela não aceitou, mas pediu que lhe desse um pedacinho de terra e algumas sementes de flores variadas. Equivocados perguntaram a ela porque aquela escolha, então ela respondeu: O dinheiro trás ganância, o desafortúnio e exploração dos pobres! Já as flores, a esperança, beleza e prazer em viver! Mais uma vez a velhinha mostrava o quanto àquela cultura era formada por regras e atributos desequilibrados. A partir daquele momento aprovaram em regime de urgência, a abolição da Lei que reprimia a mistura racial, sendo bem aceita pelo povo em geral. Séculos de preconceito e tabus estavam sendo quebrados. A aceitação geral trouxe novas mudanças culturais. Fora permitido a educação e prosperidade a todos os cidadãos.

Então após alguns meses começaram a surgir os primeiros híbridos provenientes da mistura das duas facções. Eram criaturas perfeitas, alguns totalmente negros, outros totalmente brancos, outros morenos, a diversidade ficou a cargo da natureza. Nunca tiveram tamanho índice de crescimento demográfico. Contudo as mudanças começaram a acontecer, era social, cultural, econômica e política. Já havia pessoas de todas as facções assumindo cargos de direção no governo. Programas de divisão de riquezas foram implantados, todos estavam se beneficiando o desenvolvimento humano e econômico nunca atingira tamanho índice. A transformação daquela sociedade se fez com coisas básicas abolindo preconceitos que estavam destruindo aquela cultura. E logo, foi aprovado a Lei alterando o nome daquele país, passando a chamar Esperança e o povo daquele país de Brasileiros.


O Autor, Eli Cézar é professor na FACIC de Curvelo.

Contatos: elicezar@uai.com.br

Página Publicada em 25/07/2005