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A Guerra do Iraque
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Casa da Cultura - A Guerra do Iraque e G. Bush

Bush no Planeta dos Macacos

A regressão evolutiva do presidente estadunidense, comparada ao longa metragem animal

Edgar Indalecio Smaniotto

O nome é o mesmo mas o filme é bem outro. Ainda bem, afinal, no momento em que o novo "Planeta dos Macacos" mais tenta repetir o original, ou seja, na busca de um final impactante e inesperado, mais ele decepciona.

Isso não quer dizer que o filme seja ruim, longe disso. A história é legal, tem bom ritmo, visual fantástico ou seja tudo o que é necessário a uma boa ficção cientifica, e é claro até um pouco de ciência.

Se no "Planeta dos Macacos" original, em termos gerais, os chimpanzés eram cientistas, os orangotangos governantes e guardiões da Fé e os gorilas a polícia (ou exército), no novo tudo é mais misturado. Se de um lado existe o violentíssimo Thade, interpretado com uma energia animal , o contraponto é a chimpanzé Ari, defensora dos "direitos humanos" na comunidade dominada pelos macacos. O orangotango de mais destaque no filme, o senador Sandar, que é um liberal progressista comparado ao conservador reacionário Zaius do primeiro filme.

Existem gorilas brucutus, como o braço direito de Thade, Attar, mas também há gorilas zen, como Krull. Estes macacos comandam uma sociedade pré-industrial, supersticiosa e militarizada, ou seja tudo aquilo que nós gostaríamos de não sermos.

Já os humanos falam, embora sejam visivelmente, com poucas exceções, mais estúpidos que os macacos, são desorganizados e não tem vontade ou desconhecem a possibilidade de se organizarem e se libertarem de seus opressores. Tão supersticiosos quanto os macacos vêem no astronauta e capitão Leo Davidson um messias ao estilo do Davi bíblico.

A explicação básica para os macacos serem o que são nessa história, e falarem inglês, é boa e respeita a inteligência de quem assiste o filme. Já o "grande final" é confuso, para dizer o mínimo.

Um otimista diria que é preciso entrar no espírito do filme, e que, afinal, ficção-científica sempre oferece várias leituras possíveis sobre qualquer coisa. O pessimista vai ver no final "surpreendente" apenas uma desculpa ruim para uma seqüência.

Apesar de bom, o filme deixa muito a desejar quando justamente não imita o original no ponto em que este era mais belo, ou seja quando temos a certeza que como no primeiro filme, a história aqui não se passa na terra, e sendo assim não temos o ponto crítico da imagem de uma terra devastada pela guerra nuclear, provavelmente declarada em decorrência de alguma estupidez humana, que nos levaria novamente a idade da pedra, como afinal já profetizou Albert Einstein quando disse que "não saberia dizer com que armas seria travada a III Guerra Mundial, mas que com certeza a IV Guerra Mundial seria travada com paus e pedras".

Para muitos essa crítica, com o fim da guerra fria, já estaria ultrapassada.

Talvez, mas não podemos nós esquecer que George W. Bush acaba de ignorar o Tratado Antimísseis Balísticos de 1972, com a construção do seu escudo antimísseis de 300 bilhões de dólares, reacendendo assim o conflito nuclear com a Rússia, país este que já assinou um acordo de defesa com a China, para assim fazerem frente ao poder dos Estados Unidos, ao mesmo tempo que este ataca várias nações à revelia, e vem buscando se consolidar como dono do planeta.

Se no Planeta dos Macacos, temos humanos regredindo a uma condição animalesca, enquanto os macacos estão evoluindo para aquilo que chamamos de estado Civilizatório, vale perguntarmos se George W. Bush não está, ele mesmo, sofrendo um processo de regressão à condição de Homem de Neanderthalensis, ardendo assim em seu peito uma admiração e desejo de se igualar ao temido general Thade, ou devo dizer Hitler, Átila, Stálin e outros.


Originalmente publicado em 12/07/2004

Edgar Indalecio Smaniotto, filósofo, astrônomo amador, mestrando em Ciências Sociais pela Unesp de Marília, membro da REFICEF (Recanto dos Escritores de Ficção Científica) e do CLFC (Clube de Leitores de Ficção Científica).

Contatos: edgarfilosofo@uol.com.br

Página publicada em 08/11/2004