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Pinturas: P. Charters d'Azevedo

Poema: Barbosa du Bocage

 

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Arreitada donzela em fofo leito
Deixando erguer a virginal camisa,
Sobre as roliças coxas se divisa
Entre sombras subtis pachocho estreito.

De louro pêlo um círculo imperfeito
Os papudos beicinhos lhe matiza;
E a branda crica nacarada e lisa,
Em pingos verte alvo licor desfeito.

A voraz porra, as guelras encrespando,
Arruma a focinheira, e entre gemidos
A moça treme, os olhos requebrando.

Como é inda boçal, perder os sentidos;
Porém vai com tal ânsia trabalhando,
Que os homens é que vêm a ser fodidos.

"Arreitada donzela em fofo leito"
0,60 X 0,70 m
Acrílico sobre Tela
Ano: 2004

 

Se tu visses, Josino, a minha amada,
Havias de louvar o meu bom gosto;
Pois seu nevado, rubicundo rosto,
Às mais formosas não inveja nada:

Na sua boca Vénus faz morada:
Nos olhos Cupido as setas posto;
Nas mamas faz Lascívia o seu encosto,
Nela enfim tudo encanta, tudo agrada:

Se a Ásia visse coisa tão bonita
Talvez lhe levantasse algum pagode
A gente, que na foda se exercita!

Beleza mais completa haver não pode:
Pois mesmo o cono seu, quando palpita,
Parece estar dizendo: "Fode, fode!"

"Se tu visses, Josino, a minha amada"
0,50 X 0,60 m
Acrílico sobre Tela
Ano: 2004

Amar dentro do peito uma donzela;
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo alta ventura,
Depois da meia-noite na janela:

Fazê-la vir abaixo, e com cautela
Sentir abrir a porta, que murmura;
Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertá-la nos braços casta e bela:

Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,
E a boca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:

Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que há no mundo.

"Amar dentro do peito uma donzela"
0,60 X 0,70 m
Acrílico sobre Tela
Ano: 2004

Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa! tivera algum merecimento
Se um raio da Razão seguisse pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei! Oh! se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

"Já Bocage não Sou"
0,50 X 0,60 m
Acrílico sobre Tela
Ano: 2004


Se é doce no recente, ameno Estio
Ver toucar-se a manhã de etéreas flores,
E, lambendo as areias, e os verdores,
Mole, e queixoso, deslizar-se o rio:

Se é doce no inocente desafio
Ouvirem-se os voláteis Amadores,
Seus versos modulando, e seus ardores
De entre os aromas de pomar sombrio:

Se é doce mares, céus ver anilados
Pela Quadra gentil, de Amor querida,
Que esperta os corações, floreia os prados:

Mais doce é ver-te, de meus ais vencida,
Dar-me em teus brandos olhos desmaiados
Morte, morte de amor, melhor que a vida.

"Se é doce no recente, ameno Estio"
0,65 X 0,81 m
Acrílico sobre Tela
Ano: 2004


Quantas vezes, Amor, me tens ferido!
Quantas vezes, Razão, me tens curado!
Quão fácil de um estado a outro estado
O mortal sem querer é conduzido!

Tal que em grau venerando, alto e luzido,
Como que até regia a mão do Fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois com ferros vis se vê cingido.

Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da Existência à morte!

Travam-se gosto e dor; sossego e lida...
É lei da Natureza, é lei da Sorte
Que seja o Mal e o Bem matiz da vida.


"Quantas vezes, Amor, me tens ferido!"
0,65 X 0,81 m
Acrílico sobre Tela
Ano: 2004


Nariz, nariz e nariz,
Nariz, que nunca se acaba;
Nariz, que se ele desaba,
Fará o mundo infeliz;
Nariz, que Newton não quis
Descrever-lhe a diagonal;
Nariz de massa infernal,
Que, se o cálculo não erra,
Posto entre o Sol e a Terra,
Faria eclipse total!



"Nariz, nariz e nariz"
0,65 X 0,81 cm
Acrílico sobre Tela
Ano: 2004


 

P. Charters d'Azevedo, é pintor de formação autodidata, começou a desenhar e a pintar regularmente em 1998. Recebeu vários prêmios internacionais na França, Espanha, Áustria e Bélgica (34e Salon Concours International 2004 –Gembloux - Belgique, 2004). Este pintor português fez diversas exposições individuais e coletivas em várias cidades de Portugal e de outros países.
Seus quadros apresentados acima são imagens do "sentir" perante os Poemas de Barbosa du Bocage (Poemas eróticos). Em 2005 serão comemorados os 200 anos da morte de Bocage, considerado um dos maiores poetas de Portugal e depois de Camões o mais popular.

Contatos : eu@pedrocharters.com
Sítio Web: www.pedrocharters.com


Página publicada em 01/09/2004