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Gabriel Ribeiro

Disse Sócrates:"Só sei que nada sei". Fazia minhas suas palavras. Agora não. Sei que nada sei, mas sei algo mais. Agora eu sei o que eu sou.

Eu sou um álbum de fotos.Um álbum de fotos que serve apenas para recordar.

Não para eu recordar. Para meus criadores recordarem. Recordarem o que passaram, recordar com orgulho. Mas não orgulho de mim. Orgulho de passarem o que passaram. Eu não sou um ser vivo.

Eu sou um livro.

Eu sou um troféu. Um troféu que reflete com um brilho opaco as vitórias dos seus donos.

Apenas uma peça em exposição, um mero brinquedo de admiração, não admirado pelo que é, mas pelo que representa. Mas mesmo como troféu eu não tenho pedestal. Pois não tenho, por fora, o ouro cintilante, apenas carne, que nada reflete. Por dentro, entretanto, correm rios dourados.

Isso, porém, nada representa aos olhos das pessoas do mundo, que não possuem a capacidade de enxergar pela fechadura de uma porta cerrada.

Eu sou um ensaio. Um ensaio para a cultivação de um ser supostamente com mais valia para ser orientado. Sou o teste das técnicas, um produto que não importa ficar ou não estragado, um produto que é, aos olhos dos que o manipulam, nulo de emoções, nulo de sentimentos. Apenas um metal para ser trabalhado, antes de trabalhar-se o outro metal, o que realmente tem valia.

Eu sou nada. Apenas um aglomerado de células, a união de vários tecidos. Apenas órgãos.

É isso que sou. É isso que era. É isso que serei, até que os órgãos não mais funcionem, até que os tecidos se rompam. Até que as células vazem da minha silhueta disforme. Entretanto, eu sei, também, o que poucas pessoas no mundo sabem. Eu sei o que eu sou. Por menos que seja, agora eu sei. E vocês já leram, nessas linhas, o que sou.

Eu sou, agora, um vencedor.