Assine Gratuitamente |
Contos |
Casa da Cultura |
||
Seção de Contos da Casa da Cultura |
A porta se abriu lentamente seguida de passos calmos que, aos poucos, foram invadindo a sala. Sentia que algo anormal acontecia com ele, mas não sabia o que.
Tudo começara quando aquele estranho invadira sua vida, observando-o comer e comendo como ele, vendo-o deitar-se e deitando-se como ele, olhando-o banhar-se e banhando-se como ele, enfim fazendo tudo que ele fazia, porém melhor.
Não o conhecia, não sabia quem era, qual o seu nome, de onde vinha, mas o compreendia. Queria ser como ele mas não conseguia.
Na sala "ele" também se encontrava, entrava como ele por outra porta que ele nunca encontrara, sentava-se como ele, acendia um cigarro e bebia simultaneamente e igualmente como ele.
Não suportava mais, queria que o outro sumisse ou que ele próprio desaparecesse, mas isso não acontecia. Onde quer que fosse lá estava o outro, tão estranho como o desconhecido e ainda assim tão conhecido.
Pensara em viajar, em mudar-se para bem longe, mas sabia que o outro sempre estaria com ele; pensou em matar-se mas teve medo; tomou mais um gole da bebida que repousava no copo, o outro o remendava, e enquanto fumava refletiu sobre a morte, não a dele mas a do outro.
Sim, faria isso, afinal não sabia quem era aquele homem que sentado à sua frente também fumava.
Levantou-se, o outro também, dirigiu-se agitado para a cozinha enquanto percebia a agitação do outro, entrou e seguiu até o armário, encarava o homem à sua frente enquanto pegava uma faca. Conhecia-o de algum lugar mas não se lembrava, o homem também o encarava, a mão com a faca tremia mas se mantinha firme.
A lâmina brilhou, avançou-a em direção ao peito do outro, e este, repetindo os movimentos levou idêntica faca ao mesmo ponto fatal. O homem à sua frente fazia-o pensar em si mesmo, sentiu o ferimento em seu corpo e viu o ferimento que provocara no outro. A dor era aguda e lhe queimava o peito. Conhecia-o, lembrava-se agora quem era o outro. Percebeu, enquanto o sangue ensopava sua camisa e seguindo seu curso molhava o chão, que o outro era ele, e que ele, louco (?!), era o outro.
Escrito e publicado em 05/07/1981
O autor, Marcelo Marcio de Oliveira, nasceu em 21/05/64 em Londrina/Paraná,
atualmente reside em Cascavel/PR onde mora com sua esposa e dois filhos.
Escreve desde os 12 anos principalmente contos, crônicas e poemas. Sua
formação profissional em Administração de Empresas
e Análise de Sistemas não aplacou a paixão pela literatura,
principalmente a Ficção Científica, a qual considera o
ramo literário capaz de abranger todas as áreas do conhecimento
humano.
Possui alguns contos publicados em jornais regionais mas ainda não publicou
nenhum livro. Atualmente trabalha em um romance de Ficção que
espera publicar. Publica a FC-Vortex, site dedicado à divulgação
da Ficção Científica.
Copyright © Todos os textos, ilustrações e fotos apresentados neste site têm direitos reservados. Nenhuma parte deles pode ser copiada, transmitida, gravada ou armazenada em sistemas eletrônicos, nem reproduzida por quaisquer meios sem autorização prévia e por escrito do autor, sob pena das pertinentes sanções legais. Quando autorizada, a reprodução de qualquer desses textos, ilustrações ou fotos deverá conter referência bibliográfica, com nome do autor e da publicação. As solicitações para a reprodução de qualquer desses textos pode ser feita através do e-mail contatos@casadacultura.org |