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Casa da Cultura - Literatura - Contos |
Se a metáfora é válida, pensei quais seriam as costelas essenciais às mulheres, para que estas tivessem vida própria. Consta que Eva surgiu no paraíso após o despertar de um longo sono do Adão. Ela foi providência divina para tornar o homem ambiguamente feliz e lúcido. Deus sempre foi um Cara muito ambicioso. Eva veio pronta, vivências ou experiências, só seriam válidas se compartilhadas. Eva não experimentou a solidão, ou o estar ou sentir-se só no paraíso, sem um companheiro, muito pelo contrário descobriu a solidão tendo justamente um companheiro para conviver.
Insaciável mulher, o paraíso não era apenas aonde os olhos percorriam, o paraíso não era um espaço físico, repleto de plantas, bichos e outros que tais naturais, o paraíso para Eva, era um estado de espírito. Insaciável em suas formas, Eva recebia, acolhia, aninhava em suas cochas o que não era seu. Sua 1ª costela seria então, a incapacidade de ser saciável.
Para além dos domínios do homem, estava o umbral da eternidade, com seus mistérios e suas indagações.
Daí surgiu a 2ª costela para Eva, a inevitável atração pelo desconhecido, o inesperado. A rotina seria mais mortal para Eva que os apelos da serpente.
A serpente entrelaçada ao tronco da árvore do conhecimento do bem e do mal, seduzia mais que seu próprio companheiro. Sua 3ª costela foi descobrir-se única, mesmo mediante à forças desconhecidas e com as quais viesse a conviver. A transposição do limites do mundo dos homens, sendo feito por um ser único, embora vindo de outro, daria fruto ao proibido: a eterna insegurança de Adão.
Deus modelou o homem, o homem pensou que modelava a mulher, e Eva se moldou aos próprios e insaciáveis desejos, sua 4ª costela, era flexível e a transformou-a em um ser modelável demais. Eva que até então, se moldava aos devaneios de Adão, moldou-se aos desejos da serpente, e num momento de êxtase total, comeu o fruto da consciência da vida, isto é uma eterna metamorfose.
Como tudo já estava escrito, e Deus sabia o que fazia, deu à Eva a descoberta da criação, própria dos deuses. E fez dela brotar uma nova vida, desta vez fruto da síntese do homem e mulher, não obra do barro soprado ou da costela tirada, e nesta ação surge a 5ª costela. Similar a reprodução das celulas no processo de fecundação, coube a Eva multiplicar-se em ser ao mesmo tempo tudo: desejosa e desejável, mulher e mãe, consciente das responsabilidade e inconsciente das limitações. Servir ao bem do homem, do filho, da família, da sociedade, ou melhor ao bem da humanidade, então a sua 6ª costela lhe trouxe a eterna contraditoriedade.
Com tantas costelas extraídas, Adão não mais suportaria, mas ainda faltava uma 7ª costela para dar por completa a criação, e Deus genioso ofertou a Eva a oportunidade de gerar-se, e neste ato de extrema liberdade divina coube a mulher descobrir e revelar o real significado da palavra AMOR.
Magali Romboli, jornalista (editora-assistente da Revista Consulte Arte & Decoração), de fato, uma dentre tantas outras Evas perdidas no paraíso da Terra.
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Página Publicada em 03/nov/2004
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