Assine Gratuitamente |
Literatura |
Contos |
Casa da Cultura |
|
Casa da Cultura - Literatura - Contos |
Um dia, de casa, saíra Alice toda produzida. Maquiada. Mais parecia uma boneca de louça à época. Dirigia-se à delegacia de polícia para registrar sua queixa. O delegado, naquela data, atrasara-se em seus compromissos.
Estamos em plena era do apagão. De repente, o Brasil deu um salto. Cresceu tanto que a energia elétrica, que iluminou o País há vários anos, perdeu a força. Hoje a carência é de muita tecnologia para acompanhar o desenvolvimento.
Voltamos aos lampiões, candeeiros, luz de velas. Para se iluminarem pequenas cidades e empresas que querem desenvolvimento. Em pequenas indústrias são utilizados até motores a diesel; costume do século passado. Àquela época (o século passado) acontecera um caso engraçado e quase trágico.
Na cidade de Santa Ana da Cacimba Seca, a iluminação era à força de um desses motores a óleo diesel. Funcionava das 19h00 às 22h00. Daí em diante, a cidade só se enxergava ao luar ou a luz de velas.
Naquele lugar se instalou uma sorveteria de um pequeno empresário. Funcionava com um motor a diesel. Morava próxima àquela casa comercial uma senhora diretora da maior escola estadual de Santa Ana da Cacimba. Personagem de família tradicional que nunca se casou. Vivia sozinha.
Naquela época, as moças do interior que não se casavam em sua juventude, quando atingiam a maturidade, eram criticadas por pessoas maldosas a comentarem umas às outras: Aquele que não se casou, ficou onde? No barricão.
Alice, sem se conformar com aquela situação imposta: o barricão, insistia em ter uma eterna juventude. Vaidosa. Endinheirada. Fazia o tempo parar em sua vida. Continuou a usar vestidos de saia rodada, cheia de bico e babado de cores bem suaves, tal e qual uma criancinha. Residia Alice próxima à sorveteria recém-inaugurada, que produzia seus sorvetes à força do diesel. O barulho dessa fera-motor, dia e noite, ouvia-se do outro lado da cidade. Alice, de tanto se incomodar com o barulho, perturbou-se profundamente.
Um dia, de casa, saíra Alice toda produzida. Maquiada. Mais parecia uma boneca de louça à época. Dirigia-se à delegacia de polícia para registrar sua queixa. O delegado, naquela data, atrasara-se em seus compromissos. Alice resolvera esperá-lo. Passara hora sentada na sala da delegacia. Ao chegar, o delegado se surpreendera com a presença de uma senhora tão fidalga e elegante na sala de uma delegacia. O delegado tentara ser lorde diante da presença tão inesperada; apressara-se em atendê-la com total respeito: Senhora Alice, o que a traz aqui? Afobada, Alice respondeu: Senhor Delegado, quero o senhor Adalberom, o dono da sorveteria, preso!
Por que senhora Alice?
Porque ele liga um motor próximo à minha residência me insultando. O motor passa o dia inteiro repetindo: BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO!
O delegado tirou o quepe da cabeça e sua reação foi passar, repetidamente, a mão por sobre a careca. Com um boletim de ocorrência Alice achou que iria solucionar seu problema. Enganara-se Alice. Daquele dia em diante, a cidade passou a chamá-la Alice Barricão. O motor da sorveteria continuou com seu barulho característico: BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO!
BARRICÃO!
BARRICÃO!
BARRICÃO!
BARRICÃO!
BARRICÃO!
RICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! BARRICÃO! Ricão! Ri! Ricão! Ricão! Ricão! Ricão!
A autora, Maria do Socorro
Ricardo, é filha do maestro José Ricardo Sobrinho e Lu Ricardo
Farias. Sua literatura recebeu elogios na Universidade de Blumenau, na Revista
de Divulgação Cultural, foi assunto em dissertação
de mestrado na UFAL, falando sobre uma pessoa importante do Estado, e em tese
de doutorado pela aluna Teresa Kleba Lisboa, da UFSC. Artigos no Jornal Barreiros,
do jornalista Rogério Salgado, Belo Horizonte, no Jornal de Educação
de Joinville, SC, no Jornal de Blumenau, no Jornal Tribuna de Alagoas, no Jornal
de Santa Catarina e no Jornal Gazeta de Alagoas. Com elogios de Djalma Melo
Carvalho e do jornalista Agamenon Magalhães Jr. Lançou seu primeiro
livro JOSÉ RICARDO SOBRINHO: UM MÁGICO DA MÚSICA, 1997,
em Blumenau e Alagoas.
Contatos: mariasricardo@bol.com.br
Página Publicada em 28/08/2006
© Todos os textos, ilustrações e fotos apresentados neste site têm direitos reservados. Nenhuma parte deles pode ser copiada, transmitida, gravada ou armazenada em sistemas eletrônicos, nem reproduzida por quaisquer meios sem autorização prévia e por escrito do autor, sob pena das pertinentes sanções legais. Quando autorizada, a reprodução de qualquer desses textos, ilustrações ou fotos deverá conter referência bibliográfica, com nome do autor e da publicação. As solicitações para a reprodução de qualquer desses textos pode ser feita através do e-mail contatos@casadacultura.org |