Poesia, um idioma da percepção Carlos Alberto Coelho
"Mesmo no meio do nevoeiro, não é
difícil constatar que também não sei fazer
poesias."
Parto do princípio que poesia não é matéria
resultante da arte ou ofício de se fazer, com um bolo,
uma parede ou uma estrada. A rigor, entendo que ninguém
inventa poesia.
Não se trata de uma mera questão de ir encaixando
palavras ou garimpando rimas, tentando encontrar uma melhor
composição, algo como compor uma melodia de sonoridade
simpática.
Entendo que poesia mesmo é uma espécie de idioma,
uma linguagem da percepção, uma certa fatia da
capacidade sensitiva do indivíduo. Quem sabe até
uma faculdade muito próxima da clarividência.
Escrever poesias é, portanto, dentro deste raciocínio,
mergulhar em busca da melhor semelhança entre aquilo
que é captado pelos sentidos e as palavras que melhor
possam expressar-lhes. Escrever poesias é demonstrar
a habilidade em expor este estado sublime de entendimento.
E quanto mais elevada esta capacidade de combinar os sinais
captados e seus respectivos símbolos, através
de uma linguagem acessível, mais apropriado será
o trabalho poético e melhor será compreendida
a intenção de seu autor.
No meio da confusão, do burburinho, da falta de clareza
e precisão, até surgem aqueles que, juntando meia
dúzias de palavras, chamam a luz para si, falam alto, gesticulam
e citam fragmentos literários e acabam sendo confundidos
com poetas, mas, do alto da colina, por sobre o nevoeiro, a alma
do verdadeiro poeta sorri com complacência e experimenta
o exercício da tolerância.
O
autor
Carlos
Alberto Coelho, é escritor, poeta e ensaísta. É
formado em engenharia civil, e tem dois livros publicados: "Denúncia
Vadia", Avatar Publish, 2002: frases, pensamentos, reflexões
de cultura rasa, ditados revisados, etc...; e "A Paisagem de
Dentro", edição do autor, 1985, canções
e falsos poemas; participou também de de diversas publicações
coletivas. Foi colaborador da coluna "O Impopular" no
jornal Correio do Paraná, de Pato Branco/PR. É um
dos fundadores da "Confraria Terra dos Poetas", uma entidade
cultural que atualmente reúne cerca de trinta escritores
da região Oeste e Sudoeste do Paraná e que tem como
objetivos principais promover, apoiar e desenvolver ações
para elevação, interesse e acesso do ser humano de
todas as classes a atividades de cunho literário. Entre outros
propósitos, a Confraria busca promover ações
objetivando despertar o interesse dos estudantes em geral pela leitura
e criação literária; viabilizar ações
para a conscientização da importância de sua
democratização junto à população
excluída das oportunidades de acesso à leitura; conscientizar
os professores e diretores da rede municipal, estadual e privada
a respeito do hábito de leitura e engajá-los nos programas
de incentivo a leitura e a organização de concursos
literários.
Contatos:
grotesko@estadao.com.br
O
texto "Poesia, um idioma da percepção"
Foi
publicado no livro "Sangue Novo na Anemia", da Confraria
da Terra dos Poetas, em dezembro de 2004.
Página
Publicada em 04/12/2004
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