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Seção de Poesias da Casa da Cultura - Poesias em Português

Calvário

Tonho França

No cálice que se diz Santo,

Busco a embriaguez permanente.

No sacro soar enferrujado dos sinos,

Eu rio e choro, numa dança demente.

No resto do pão mal dividido

Farto-me como se fosse banquete.

Nas penitências que não absolvem

E não nos redimem as falhas

Eu adormeço, e a cruz que carrego

Não pesa mais que palha.

Pelas mãos erradas que constroem o Sacrário

Pelas contas, tontas, de tantos dedos

A girar o rosário.

Pela porção “anjo” e “demônio”

Que nos é hereditário.

Pelas vozes que orientam e confundem

E não hesitam em nos crucificar a todo instante

Confesso-me culpado, por ainda ser tão parecido com antes,

E não preciso de nenhum julgamento, sigo só, voluntário.

Pois meucorpo tem as trilhas, os trilhos, chegarei ao meu calvário.



Tonho França é poeta de Guaratinguetá, interior do estado de SP, membro da UBE e da Academia Vale Paraibana de Letras, e vencedor de diversos concursos de poesia. Desenvolve trabalho sobre a desigualdade social em sua cidade e região, que consiste na união da poesia, da fotografia e do depoimento voluntario do excluido (moradores de rua, prostitutas, idosos em asilos há mais de 6 meses, etc...). No seu ponto de vista a arte tem que alertar para a situação de extrema penuria dos seres humanos, que também é poesia. Triste com certeza, mas necessário.

Contatos: jtonho@terra.com.br