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Seção de Poesias da Casa da Cultura - Poesias em Português

Crença e aparência

Bernardo Almeida

Quem crê no amor e nunca chorou
Dificilmente amou
Quem crê no amor e nunca sofreu
Dificilmente amou
Quem crê no amor e nunca perdoou
Dificilmente amou
Mas quem ainda crê no amor?
O amor foi reduzido a desejo
Passageiro, ligeiro
Um sem número de parceiros
Companheirismo é piegas
Amar alguém é tão brega
A sinceridade está de braços cruzados
A cumplicidade tirou férias
E o compromisso se aposentou
Mas quem ainda crê no amor?
Livre de interesses materiais
Repleto de saudades e lembranças
Os corações estão trancados
Protegidos contra danos
Todo mundo é tão sério e prudente
Falta coragem para amar
É mais fácil possuir do que se entregar
Mas quem ainda crê no amor romântico?
O que era sentimento verdadeiro
Não passa hoje de um jogo entre parceiros
A morte já não separa os casais
O amor morre muito antes
O vinho é transformado em água
Sem sabor, gosto ou cheiro
Sem emoções e sem feições
Quem veio ao mundo e nunca amou
Falar sobre a vida não pode
Porque nada sabe
Porque nada aprendeu além de futilidades
Porque nada sentiu além do trivial
Porque nada entendeu além do óbvio
Porque, ainda que vivo, nunca viveu

Leia também:
[Carne, osso e memórias]


O autor, Bernardo Almeida, é poeta, escritor de contos, ensaios, roteiros e tiras, compositor, fotógrafo digital (desenvolve imagens artísticas digitais) e livre pensador. É formado em Comunicação pela Universidade Católica do Salvador. O trabalho artístico que desenvolve está concentrado em três pontos: a intervenção, a descrença nos convencionalismos e o questionamento. Lançou, no ano de 2005, o livro de poesia Achados e Perdidos.

Contatos:bernardo@bernardoalmeida.jor.br

Página Publicada em 24/08/2005