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Tecnologia x Romantismo
Rafael Bartos
Fevereiro de 2004, são 7h30, antes mesmo de levantar da cama, estico o braço esquerdo e aperto um botão com a legenda "ON", espero alguns segundos, esfrego as mãos sobre os olhos ainda com uma visão embaçada e percebo no monitor do meu micro-computador, que nove colegas, uma editora de revista semanal, dois jornais e quatro desconhecidos enviaram-me mensagens eletrônicas (email). Fazia apenas algumas horas desde a ultima vez que verifiquei minha caixa postal e lá estava mais "um monte" de informação pronta para ser filtrada e processada pelo meu cérebro, visando definir o que poderia ser útil.
Voltando no tempo...
Recordo-me com alegria da última carta que recebi, eu tinha 16 anos. A carta foi postada no interior do Rio Grande do Sul, escrita com uma letra linda e bem contornada, alguns desenhos românticos pelo lado de fora do envelope e logo ao lado o nome da pessoa que me escreveu. Não importa quantas cartas eu já havia recebido, sempre percorria com os olhos atentos, procurando pelo nome do destinatário e se lá encontrasse o meu nome, a explosão de adrenalina era imediata.
Com o envelope nas mãos comecei o ritual, uma cerimônia cheia de cuidados para abrir aquele envelope simples, frágil e desconhecido que guardava algo de grande preciosidade, os pensamentos sinceros de uma pessoinha muito especial.
O conteúdo podia não ser dos mais nobres e nem mesmo a gramática perfeita, mas lia a carta atentamente e ao término relia, para ver se não tinha deixado passar desapercebido uma vírgula sequer.
Retornando ao presente...
Mas não são das minhas cartas que quero falar, pois delas tenho apenas boas lembranças. Cito a carta como exemplo para que vejamos a falta de romantismo que a tecnologia nos "impôs" com o surgimento de alguns "facilitadores". Exemplo disto o e-mail, programas de mensagens instantâneas e celulares com mensagens de texto.
Como posso me recordar tão bem de uma carta que recebi há nove anos e não me recordo do primeiro e-mail (correspondência eletrônica) que recebi hoje pela manhã?
Agora já não importa mais qual foi meu primeiro e-mail do dia. O que desejo aqui enfatizar é que às vezes a tecnologia e a modernidade só vem atrapalhar e esconder o lado romântico que cada homem possui dentro de si. Pergunto:
- Quantos e-mails você manda por semana ou até mesmo por dia para sua esposa, namorada ou paquera? Será que ela lembra do que estava escrito nos três últimos ou, será que ela lembra o que dizia a ultima mensagem. Ah!!!, não era mensagem importante, nem mesmo palavras de carinho, mas sim uma piada que recebeu de um amigo e encaminhou para ela? Não tem problema, você não é o único a fazer isso.
Agora, experimente fazer um teste. Inicie pegando uma folha de papel, de preferência reciclável, uma caneta e escreva algumas palavras para a pessoa que você gosta. Utilize sua imaginação, criatividade e liberdade para mostrar o que sente por ela. Quando terminar de escrever, procure uma agência dos Correios e poste a correspondência. Não importa quão longe ou perto esteja o destinatário. O que está em jogo é dar o prazer de deixar a pessoa abrir a carta, analisar a ortografia, acreditar nas palavras e sentir a presença do tão esquecido romantismo.
Eu aposto...
Se você for sincero e a destinatária tiver "sangue nas veias", não haverá erros de gramática, falhas de concordância, palavras chulas, nem mesmo "letra feia" que farão seus pensamentos ali escritos serem esquecidos por bons e longos anos.
Hei... não vá pensar que sou contra a tecnologia, se assim fosse eu não teria me formado em Sistemas de Informação (Informática). O que estou ressaltando é que existem momentos em que devemos lembrar e utilizar as boas coisas de um passado nada distante, neste caso, os três C -- CARTA, CORREIO E CARTEIRO!
O autor, Rafael Bartos, é graduado em Sistemas de Informação.
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e-mail: rbartos@soia.com.br
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