Casa da Cultura: Literatura, Artes, Geografia e Folclore do Brasil Assine
Gratuitamente
Literatura <<
(Voltar)
Traduções
Página Principal da
Casa da Cultura

Personagem


Paola Suárez Galicia

Tradução de Leonardo Vieira de Almeida

[Clique aqui para acessar o texto original]


I

Entrei no banheiro; um odor preciso, regido por contornos quadrados, ocupava a habitação; o espelho colocado sobre o lavatório, devido à pequenez do espaço, cumpria um trabalho inquisitivo, delimitado pela película desgastada do reduzido retângulo antigo. Com tédio comecei a me despir. O surdo rumor que as roupas instalavam no pequeno cômodo delimitou o lugar. A um lado, o vaso sanitário emergia silencioso, como uma beluga estéril, indefesa, sufocada pela estreiteza de sua tundra artificial. Finalmente me inclinei sobre o cetáceo, na espera dos surdos sons que inaugurassem o fluxo do meu dia. Uma vez sob o chuveiro, fechei os olhos: o cubículo ampliou-se no tempo em que o vapor se propagava, só que escuro e quase carente de oxigênio, reticulado em um de seus extremos pelas sonoras estilhas aquáticas que por momentos pareciam inundar o piso. Como de costume, minha cabeleira, precedida por um leve calafrio, rendeu-se ante o peso da água, formando um instantâneo casco que cercou minhas orelhas e me arrastou a uma nova dimensão sonora. A essa hora do dia era-me difícil saber com exatidão como ou mediante o quê aquele cômodo parecia iluminado e sedoso: possivelmente uma luz diurna, inicial ou, talvez, se tratasse da velha lâmpada fixada a uma das paredes laterais, cujos filamentos simulavam um pequeno inseto de âmbar ou palha. Ou será que aquela claridade, apenas suficiente, constituía-se graças à multiplicidade de pequeninos reflexos provenientes das partículas de água que se depositavam matemática e delicadamente sobre as paredes para aveludá-las? Não posso precisar a origem da luz, mas sei que o espaço se reduzia sob a claridade fragmentada e nebulosa. Agora o ar possuía o recente cheiro de urina, parecendo materializar-se nas nervuras dos mosaicos, quase irreverentes em seu perfeito alinhamento.

Não me lembro se em algum momento de minha vida encontrei na cotidiana tarefa do arranjo pessoal certo prazer, porém, faz tempo que sua indiferença ajuda-me a decidir rapidamente o tom e a suavidade de minhas roupas. Renunciei sem dar-me conta de todo tipo de detalhes, pois nem sequer me permito botões ligeiramente grandes ou de cor inusitada. Habito familiares urdimentos que se encarregam de definir meu contorno e apenas outorgam mínimas variações avermelhadas ou cinzentas. Resulta-me difícil aceitar minha elegância acidental; pode ser que isso tenha sua origem no aborrecimento quase amável que lentamente me cerca. Escolhi? - um suéter pressentindo a frialdade das ruas.

Quando cheguei, o frio e o cheiro de lápis me escoltaram até o lugar habitual. Ao meu redor a luz estava prestes a nascer: as lâmpadas halógenas, através de uma lâmina de plástico cuja superfície possuía um múltiplo desenho hexagonal, como se se tratasse de favos elétricos, emanavam uma brancura cirúrgica. As leves cortinas ofuscavam a paisagem metálica da cidade e apagavam os detalhes das varandas vizinhas que, como desarticuladas caixas de sapatos, umas sobre as outras, pareciam precipitar-se sobre a calçada. A rigidez da cadeira, unida ao estreito espaço que havia entre esta e a escrivaninha, obrigou-me a dispor do reduzido lugar como se eu fosse um incômodo caracol, ensimesmado e concêntrico, em uma atitude voluntariamente introspectiva que me dava apenas um pouco de segurança.

Minha chegada não passou despercebida. Os alunos ocuparam seus lugares maquinalmente e iniciei, ausente e triste, meu discurso cotidiano. Freqüentemente me pergunto: como experimento o passar do tempo? Meu trabalho docente me dá uma perspectiva cíclica e vazia dos dias? Talvez seja como uma sensação de permanência em um ponto atemporal e interrompido. Meus interlocutores, sempre múltiplos e diversos, preconcebidos desde os seus nomes, são na realidade uma só presença que, ao longo dos – anos?, formula a mesma pergunta, desde o mesmo lugar, a propósito de algo que se repete até fazer-se real: "quais o componentes da sinóvia?" Essa dúvida une o passado e o futuro e faz do presente um hábito, uma ferida única e rotineira, ante a qual tenho logrado sentir indiferença. É por isso que para mim fevereiro é sempre fevereiro, mas não só isso, se não, também, o exame sobre as agenesias e os hiatos ósseos. Júlio traz consigo os tarsos, segunda parte. Essa certeza que, como bola de bilhar, dirige-se tensa e programática até mim, me produz duas sensações: a comodidade que me lega a predição e o fastio que essa predição implica. Quando me pergunto quem são eles, só consigo recordar riscos que permanecem, algo assim como pernas suaves que, depois de ligeiras vacilações, firmam-se sobre a barra da cadeira em frente: como ombros alinhados que se rendem conforme o quadro negro persiste e denuncia; como pares de sapatos brancos, níveos. Quantas vezes inssurgiu-se o ruído das carteiras contra o som metálico da campanhia escolar. Quantos lápis sucumbiram tímidos ante a dúvida? Só tenho vivido um dia, que pode ser reduzido a um momento perene.

Então, dei a aula perpétua ao meu aluno, tudo pairando sob o peso luminoso das lâmpadas e da realidade. À borda do medo, lembrei do que disse alguma vez um pedagogo: "o professor é alguém que chega e dá resposta a uma série de perguntas que ninguém lhe fez". [E o contista?] Menos mal que o ensino não é tudo para mim: se não fosse pelo meu turno no hospital, essa frase deixaria cair impunemente seu gume sobre minha desde já desvanecida existência, situar-me-ia na ante-sala do sem sentido. Saí da sala com resignação, mas triste, enquanto a palidez do corredor que leva aos fundos do necrotério me devorava firmemente. Só faltava o dia seguinte para que este pequeno ciclo semanal terminasse.

II

O ferrolho cedeu docilmente. A chave, cuja superfície desenhava um baixo-relevo reticular, se ajustou à fechadura e, como de costume, a abriu. Atravessei o umbral e nesse momento recordei algo que já havia pensado antes: que poder nos dão as coisas, capazes de redimensionar uma e outra vez o mesmo espaço! Como influem emocionalmente em nós cada um de nossos fiéis objetos do dia-a-dia? Que significam o sofá suave, aí, a estante lúgubre e a lâmpada aérea? Agora creio que posso lhes ser indiferente, mas se não existissem, se em algum momento como esse deixassem de existir, pressinto que minha consciência se inclinaria, incoerente, até elas. (Que parte de nós é todas as coisas?). Um homem ancestral pensou: "esta é minha pedra"; desde esse dia não temos parado de construir e conquistar; só assim poder-me-ia explicar a existência do copo e do pires, da fivela e da caneta, da chave e do cabide.

Fechei a porta. A terrível proximidade do fim de semana me abateu, enquanto caminhava até a cadeira. Notei que a pequena begônia na varanda agonizava. Que ironia! Os dias no hospital têm transcorrido imperceptivelmente. Sei que esta semana morreu o velho hepático e nasceram duas crianças, mas isso não muda as coisas. Depois de tudo, a sala de cirurgia quase aquática, o oxidado purê de maçã que servem no refeitório e a máscara cirúrgica silenciaram-me; tenho terminado por me parecer a um de tantos corredores do hospital: desvelado, estéril e simples. Sou isso. Hoje, recebi uma pessoa que havia sido ferida numa briga. Por momentos a lividez de seu rosto suave, de seus lábios de amêndoa tiraram minha atenção. Quando os assistentes investiram furiosamente em suas calças com as tesouras, que multiplicavam com força a luz da lâmpada, assomou uma pele delicada, sob a qual se adivinhava a harmoniosa articulação dos quadris e do fêmur; o sangue esparzia-se sobre a claridade cutânea como um desfile de suaves e doces cerejas em volta da fragmentada negrura do sexo. Conforme consegui controlar a hemorragia, a respiração se normalizou e o maxilar inferior foi cedendo até devolver-lhe a expressão de descanso ao rosto. Quando o condutor da maca a levou ao final da sala de observações, senti um forte esgotamento e comecei a tirar as luvas de látex, que pareciam adelgaçar-se devido ao insistente suor de minhas mãos. Eu agonizava.

Agora volto às minhas coisas, aferro-me à magia da mesa ou à presença vital e latejante do televisor.

III

É tarde e a chuva persiste; a noite, como um pulmão de barro fresco, aspira o silêncio amedrontado e úmido das artérias. O banheiro, agora livre de artifícios luminosos, exala um cheiro de caracol gigante. O estúdio (onde durmo) aguarda com a paciência do pó nos armazéns, quieto: no centro, o grande volume aberto tenta seduzir-me com suas páginas de arroz e borboleta; minhas roupas alegóricas caem como pétalas abatidas junto à sua escrivaninha, de onde me observa como se fosse real, como se sua solidão pendesse, oscilando de um fio de seda sustentado pelos meus dedos de açucena hipotética; miro-o enfermo, embalsamado na pele de cera torpemente envolvida pelo pardo cachecol; sua debilidade me invade, me desborda, o que me permite compreender o tédio esmagador de meus dias no colégio e no hospital; lanço minha repreensão às suas orelhas de morcego agonizante, descarrego meu ódio sobre seu cabelo de eqüino assustado e a pergunta acode como bumerangue: por que me manténs aqui, por que te desdobras e intentas viver de mim, de nosso inacessível coração de cebola? Não me desnudes com tuas metáforas de pétala para evidenciar minha ausência, para exibir meu corpo assexuado pela covardia de tua caneta que não concebe o amor; estás só e o advertes em meus olhos de tinta, em meus dedos de prosa, em minha boca, que cerras de golpe com tua assinatura.


Personaje


Paola Suárez Galicia


I

Entré al cuarto de baño; un olor preciso, regido por ámbitos cuadrados, ocupaba la habitación; el espejo colocado sobre el lavabo, debido a la estrechez del baño, cumplía una labor inquisitiva, delimitada por el añejo reflejante del reducido rectángulo antiguo. Con desgano comencé a despojarme de la ropa. El sordo rumor que las prendas instalaban en el pequeño cuarto delimitó el espacio. A un lado, el retrete emergía silencioso, como una beluga estéril, indefensa, agobiada por la angostura de su tundra artificial. Finalmente me incliné sobre el cetáceo, en espera de sordos sonidos que inaugurasen el flujo de mi día. Una vez bajo la regadera, cerré los ojos: el cubículo se amplió al tiempo que el vapor se propagaba, sólo que oscuro y casi carente de oxígeno, reticulado en uno de sus extremos por las sonoras astillas acuáticas que por momentos parecían inundar el piso. Como de costumbre, mi cabellera, precedida por un leve escalofrío, se rindió ante la pesadez del agua, formando un instantáneo casco que cercó mis orejas y me arrastró a una nueva dimensión sonora. A esa hora del día me era difícil saber con exactitud cómo o mediante qué aquel cuarto parecía iluminado y sedoso: quizá una luz diurna, inicial o, tal vez, se trataba de la vieja bombilla adosada a una de las paredes laterales, cuyos filamentos simulaban un pequeño insecto de ámbar o de paja. ¿O será que aquella claridad, apenas suficiente, se construía gracias a la multiplicidad de pequeños reflejos provenientes de las partículas de agua que se depositaban matemática y delicadamente sobre los muros para aterciopelarlos? No puedo precisar el origen de la luz, pero sé que el espacio se reducía bajo la claridad fragmentada y neblinosa. Ahora el aire tenía el reciente peso del vapor y un levísimo olor a orina que parecía materializarse en las endiduras de los mosaicos, casi irreverentes en su perfecta alineación.

No recuerdo si en algún momento de mi vida encontré en la cotidiana tarea del arreglo personal cierto placer, pero hace tiempo que su indiferencia me ayuda a decidir rápidamente el tono y la suavidad de mis vestiduras. He renunciado sin darme cuenta a todo tipo de detalles, pues ni siquiera me permito botones ligeramente grandes o de color inusitado. Habito familiares urdimbres que se encargan de precisar mi contorno y apenas otorgan mínimas variaciones guindas o grises. Me resulta difícil aceptar mi elegancia accidental; quizá eso tenga su origen en el aburrimiento casi amable que lentamente me cerca. ¿Elegí? un suéter presintiendo la frialdad de las calles.

Cuando llegué, el frío y el olor a lápiz me escoltaron hasta mi sitio habitual. A mi alrededor, la luz no terminaba de nacer: las barras de halógeno, a través de una lámina de plástico cuya superficie tenía un múltiple diseño hexagonal, como si se tratara de panales eléctricos, emanaban una blancura quirúrgica; las ligeras cortinas empañaban la perspectiva del paisaje metálico de la ciudad y cancelaban los detalles de los balcones vecinos, que como desarticuladas cajas de zapatos, uno sobre otro, parecían precipitarse sobre la acera. La rigidez de la silla, aunada al angosto espacio que había entre ésta y el escritorio, me obligó a disponer del reducido sitio como si yo fuese un incómodo caracol, ensimismado y concéntrico, en una actitud voluntariamente introspectiva que solía darme un poco de seguridad.

Mi llegada no pasó desapercibida. Los alumnos ocuparon sus lugares maquinalmente e inicié, ausente y triste, mi discurso cotidiano. A menudo me pregunto ¿cómo experimento el paso del tiempo? ¿mi labor docente me da una perspectiva cíclica y vacía de los días? Quizá sea como una sensación de permanencia en un punto atemporal e ininterrumpido. Mis interlocutores, siempre múltiples y diversos, preconcebidos hasta el nombre, son en realidad una sola presencia que, a lo largo de los ¿años?, formula la misma pregunta, desde el mismo sitio, a propósito de algo que se repite hasta hacerse real: "¿Cuáles son los componentes de la sinovia?" Esa duda unifica el pasado y el futuro y hace del presente un hábito, una herida única y cotidiana, ante la cual he logrado sentir indiferencia. Es por eso que para mí febrero es siempre febrero, pero no sólo eso, sino también el examen sobre las agenesias y los hiatos óseos. Julio trae consigo los tarsos, segunda parte. Esa certeza, que, como bola de billar, se dirige tensa y programática hacia mí, me produce dos sensaciones: la comodidad que me otorga la predicción y el hastío que dicha predicción implica. Cuando me pregunto quiénes son ellos, sólo consigo recordar rasgos que permanecen, algo así como piernas suaves que, después de ligeras vacilaciones, se afirman sobre el travesaño de la silla de enfrente; como hombros alineados que se rinden conforme el pizarrón persiste y denuncia; como pares de zapatos blancos, níveos. ¿Cuántas veces se suscitó el ruido de las bancas bajo el sonido metálico de la chicharra? ¿Cuántos lápices sucumbieron tímidos ante la duda? Sólo he vivido un día, que puede ser reducido a un momento perenne.

Entonces di La clase perpetua a mi Alumno, todo bajo el peso luminoso de las lámparas y de la realidad. Al borde del miedo, recordé lo que dijo alguna vez un pedagogo: "el maestro es alguien que llega y da respuesta a una serie de preguntas que nadie le hizo" [¿Y el cuentista?]. Menos mal que la enseñanza no lo es todo para mí; si no fuera por mi turno en el hospital, esa frase dejaría caer impunemente su filo sobre mi ya de por sí desteñida vida, me situaría en la antesala del sin sentido. Salí del aula conforme, pero triste, mientras la palidez del pasillo que lleva al costado del anfiteatro me devoraba firmemente. Sólo faltaba mañana para que este pequeño ciclo semanal se cerrase.

II

El cerrojo cedió dócilmente. La llave, cuya superficie dibujaba un bajorrelieve reticular, comulgó y, como de costumbre, abrió. Traspasé el umbral y en ese momento recordé algo que ya había pensado antes: ¡qué poder nos otorgan las cosas, capaces de redimensionar una y otra vez el mismo espacio! ¿Cómo influyen emocionalmente en nosotros cada uno de nuestros fieles objetos cotidianos? ¿Qué significan el sofá suave, ahí, el librero lúgubre y la aérea lámpara? Ahora creo que puedo serles indiferente, pero si no estuvieran, pero si en algún momento como este no estuvieran, presiento que mi consciencia se inclinaría, incoherente, hacia ellos. (¿Qué parte de nosotros es todas las cosas?). Un hombre ancestral pensó: "Esta es mi piedra."; desde ese día no hemos parado de construir y poseer; sólo así podría yo explicarme la existencia del vaso y de la mancerina , de la hebilla y el bolígrafo, de la llave y el perchero.

Cerré la puerta. La terrible proximidad del fin de semana me abatió mientras caminaba hacia la silla. Noté que la pequeña begonia del balcón agonizaba. ¡Qué ironía! Los días en el hospital han transcurrido imperceptiblemente. Sé que esta semana murió el viejo hepático y nacieron dos niños, pero eso no cambia las cosas. Después de todo, el quirófano casi acuático, el oxidado puré de manzana que sirven en el comedor y el cubre bocas me han silenciado; he terminado por parecerme a uno de tantos pasillos del hospital: predecible, estéril y simple. Eso soy. Hoy recibí a una persona que había sido herida en una riña. Por momentos la lividez de su rostro suave, de sus labios ajustados de almendra disolvieron mi atención. Cuando los asistentes embistieron furiosamente sus pantalones con las tijeras, que multiplicaban con firmeza la luz de la lámpara, asomó una piel gustosa, bajo la cual se adivinaba la armoniosa articulación de la cadera y el fémur; la sangre se esparcía sobre la claridad cutánea como un desfile de delicadas y dulces cerezas, cercana a la fragmentada negrura de su sexo. Conforme logré controlar la hemorragia, la respiración se normalizó y el maxilar inferior fue cediendo hasta devolverle la expresión de descanso al rostro. Cuando el camillero la condujo al fondo de la sala de observaciones, sentí un fuerte agotamiento y comencé a despojarme de los guantes de látex, que parecían adelgazar a causa del insistente sudor de mis manos. Yo agonizaba.

Ahora vuelvo a mis cosas; me aferro a la magia de la mesa o a la presencia vital y latente del televisor.

III

Es tarde y la lluvia persiste; la noche, como pulmón de barro fresco, aspira el silencio amedrentado y húmedo de las arterias. El cuarto de baño, ahora despojado de artificios lumínicos, exhala un olor de caracol gigante. El estudio (donde duermo) aguarda con la paciencia del polvo en los almacenes, quieto: en el centro, el grande volumen abierto intenta seducirme con sus páginas de arroz y mariposa; mis ropajes alegóricos caen como pétalos abatidos junto a su escritorio, desde donde me mira como si fuera real, como si su soledad colgara, oscilando, de un hilo de seda sostenido por mis dedos de azucena hipotética; lo miro enfermo, embalsamado en su piel de cera torpemente agasajada por el pardo gasné; su debilidad me invade, me desborda, lo cual me permite comprender el tedio atornillador de mis días en el colegio y el hospital; lanzo mis reproches a sus orejas de murciélago agonizante, descargo mi odio sobre su cabello de equino asustado y la pregunta acude como búmerang: ¿por qué me tienes aquí, por qué te desdoblas e intentas vivir de mí, de nuestro inasible corazón de cebolla? No me desnudes con tus metáforas de pétalo para evidenciar mi ausencia, para exhibir mi cuerpo asexuado por la cobardía de tu pluma que no concibe el amor; estás solo y lo adviertes en mis ojos de tinta, en mis dedos de prosa, en mi boca, que cierras de golpe con tu firma.


A autora, Paola Suárez Galicia, nasceu na Cidade do México em 1978. Licenciou-se em Língua e Literaturas Hispânicas pela Universidad Nacional Autónoma de México e atualmente faz mestrado em Lingüística Aplicada. Seu conto "A carta dum poeta que morre" obteve o primeiro lugar no Certame de Criação Literária em língua portuguesa organizado pelo Centro de Enseñanza de Lenguas Extranjeras (CELE).

Paola Suárez Galicia nació en la Ciudad de México en 1978. Se tituló como Licenciada en Lengua y Literaturas Hispánicas por la Universidad Nacional Autónoma de México. Actualmente, cursa una Maestría en Lingüística Aplicada. Su cuento "A carta de um poeta que morre" obtuvo el primer lugar en el Concurso de Creación Literaria en Portugués organizado por el Centro de Enseñanza de Lenguas Extranjeras (CELE).

O tradutor, Leonardo Vieira de Almeida, nasceu no Rio de Janeiro, em 1971. É escritor e tradutor, autor do livro de contos Os que estão aí, editora Ibis Libris, 2002.

Contatos: leonardo33vieira@yahoo.com.br
Sítio WEB: www.noitedossuicidas.kit.net

© Todos os textos, ilustrações e fotos apresentados neste site têm direitos reservados.
Nenhuma parte deles pode ser copiada, transmitida, gravada ou armazenada em sistemas eletrônicos, nem reproduzida por quaisquer meios sem autorização prévia e por escrito do autor, sob pena das pertinentes sanções legais.
Quando autorizada, a reprodução de qualquer desses textos, ilustrações ou fotos deverá conter referência bibliográfica, com nome do autor e da publicação.
As solicitações para a reprodução de qualquer desses textos pode ser feita através do e-mail contatos@casadacultura.org