SOB A IMENSIDÃO DO CÉU
Quantas pessoas não
têm vontade de observar e reconhecer constelações
e planetas no céu, e nunca puderam fazê-lo? Se o
leitor ou leitora é uma delas, eis uma boa notícia:
você poderá fazê-lo esta noite mesmo, e não
precisará de telescópio ou de qualquer outro instrumento.
Basta seguir as instruções deste artigo. Aqui você
encontrará uma forma simples e prática de se orientar
no céu deste inverno no Sul do Brasil e de reconhecer as
constelações de Escorpião e Sagitário
e o planeta Marte.
O primeiro passo é
observar o movimento do sol durante o dia e marcar a direção
de onde ele nasce (nascente), o caminho que ele percorre, e a
direção aonde ele se põe (poente). Um percurso
similar será repetido, durante a noite, pelas estrelas
e planetas. No inverno, os planetas visíveis estarão
sempre um pouco acima (ao sul) dessa linha percorrida pelo Sol.
(O sul está ao lado direito de quem olha o nascente.)
Depois, ao anoitecer, basta
escolher um local distante de luzes artificiais e esperar uns
5 minutos para que os olhos se acostumem com o escuro. Se houver
alguma luz próxima, não olhe para ela. (Se necessário
use uma pequena lanterna coberta por um plástico vermelho).
A principal dificuldade
do iniciante para se orientar no céu é ter noção
do tamanho das coisas. Ao ver um desenho no papel, como os das
constelações abaixo, é impossível
saber de que tamanho elas se mostrarão no firmamento. Mas
a solução é simples: usaremos nossa mão
para medir tamanhos. Se estendermos o braço sob o céu,
nossa mão ocultará cerca de 10 graus da esfera celeste
(Aqui as distâncias são medidas em graus: e.g. o
sol ou lua têm cerca de meio grau, o firmamento inteiro,
de um lado a outro, mede 180 graus).
No início da noite,
diretamente sobre nossas cabeças, estará a mais
bela constelação do zodíaco: o Escorpião.
A
orientação indicada em relação ao
norte terrestre ocorrerá nas primeiras horas da noite,
depois a cabeça do Escorpião girará um
pouco para o poente. Este e Oeste são invertidos por
serem vistos de baixo para cima.
Da cabeça à
cauda a constelação mede cerca de 35o,
ou seja, três mãos e meia. Observe bem a forma mostrada
na figura; com um pouco de paciência, você a reconhecerá
no céu. Note a cauda (ou ferrão) em forma de anzol
(1), o corpo reto (2) e a cabeça torcida para a direita
(3). As três estrelas alinhadas (5) marcam a frente da cabeça.
Entre o rabo e o corpo, existe uma bela estrela dupla (6) distinguível
a olho nu. Antares (4) é a estrela mais brilhante do grupo.
Do Escorpião para
o nascente, a cerca de 3 mãos de distância, fica
Sagitário, o arqueiro. Ele segura um arco retesado (7),
cuja flecha (8) aponta para o Escorpião. O arco mede cerca
de uma mão e meia. O pequeno trapézio (9) representa
a mão do arqueiro e mede uns dois dedos de largura. Na
direção de Sagitário está o centro
de nossa galáxia.
Ainda mais para o nascente,
a cerca de 5 mãos de distância, você verá
o planeta Marte. Ele surgirá no horizonte pouco depois
do anoitecer, cerca de duas mãos a sul de onde nasce o
Sol. Marte será o objeto mais brilhante do céu,
parecendo uma estrela grande e alaranjada.
Hoje as observações
podem ser um pouco prejudicadas pela Lua, quase cheia, mas a situação
irá melhorando gradualmente até as noites de 26
e 27, quando Marte estará à menor distância
da Terra em 59.000 anos!
Na próxima semana
falaremos de Marte, explicaremos o mecanismo de suas aproximações
da Terra, e daremos todas as informações sobre como
observá-lo.
Olhar o céu... Em
tempos difíceis como os que vivemos – em que preocupações
nos absorvem de tal maneira que às vezes parecem ser tudo
que existe – é bom olharmos para o céu estrelado
e lembrarmos o que é o verdadeiro universo: essa maravilha
infinitamente grande e duradoura. Dele, nossas preocupações,
idéias, conflitos e ambições são apenas
um efêmero detalhe. Sob a imensidão do céu,
nossos problemas não desaparecem, mas adquirem uma dimensão
mais razoável...
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