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Como alfabetizar sem o hábito de ler?
Carlos Laranjeira
Tão importante quanto à erradicação do analfabetismo é habituar o alfabetizado a ler. Se ele não adquire o hábito da leitura, dificilmente continuará ao longo dos anos conhecendo o código e o encanto das palavras, inclinando-se a desperdiçar todo o tempo e o investimento feitos na sua aprendizagem.
Não obstante seja o analfabetismo um dos males mais antigos da sociedade brasileira, não se observa uma ação rigorosa do governo destinada a inverter o quadro. Pelo contrário, o que se vê é a desídia campeando em cursos superiores, inclusive os particulares que disputam o aluno sem nenhum critério.
Há dois anos uma reportagem exibida no programa "Fantástico", da Rede Globo, mostrou uma moça com dificuldades para ler as questões e até para marcar as respostas de um exame, mas conseguiu ser aprovada no vestibular da Universidade Gama Filho, do Rio de Janeiro, para o curso de Letras. Aprovado em nono lugar no vestibular de Direito da universidade Estácio de Sá, o padeiro semi-analfabeto Severino da Silva passou também na prova de seleção da Universidade Gama Filho.
Todos falam que a educação é o princípio fundamental para se combater a violência, mas o País não dispõe de uma política por meio da qual estimule o homem e a mulher a aprenderem a ler, a escrever e, mais ainda, a freqüentar cursos médios e superiores. Há programas em que o governo contempla com 30 ou 40 reais ao mês a família que mantém o filho na escola, mas qual estímulo o menino recebe para adquirir o hábito da leitura? Pelas estatísticas oficiais o País tem hoje 20 milhões de analfabetos, mas a experiência insinua ser esse número bem maior, pois aqueles que foram considerados alfabetizados ou semi-alfabetizados voltaram a ser analfabetos, já que não adquiriram a disposição de repetir com freqüência o ato de ler.A falta da leitura leva o homem a se tornar um analfabeto político, quem Bertold Bretch assim definiu: "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,do peixe, da farinha do aluguel, do sapato e do remédio, dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito, dizendo que odeia política. Não sabe o imbecil que, de sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos: o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais."
O Autor, Carlos Laranjeira, é jornalista no ABC paulista e diretor do JORNAL DO LIVRO.
e-mail: politika@uol.com.br