Casa da Cultura: Literatura, Artes, Geografia e Folclore do Brasil Assine
Gratuitamente
Voltar ao Índice Geral de Artes
Artes
Voltar ao Índice de Pinturas
Pintura
Página Inicial da Casa da Cultura
Casa da Cultura

Casa da Cultura - Artes - Pintura

anA marques

Clique na tela para ver a imagem ampliada

pintura de anA marques

Poema de Bocage
Óleo sobre tela
100 x 150 cm

Auto-retrato

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão n’altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo de níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades
(Digo de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;

Eis Bocage, em que luz algum talento:
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento

Bocage

pintura de anA marques

Poema de Bocage
Tecnica mista sobre madeira
150 x 100 cm

Meu ser evaporei na lida insana

Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel das paixões que me arrastava
Ah, cego eu cria, ah !mísero eu sonhava
Em mim, quase imortal, a essência humana!

De que inúmeros sóis a mente ufana
A existência falaz me não doirava !
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal , que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus e meus tiranos,
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus. Ó Deus! Quando a morte á luz me roube
Ganhe um momento o que perderam anos:
Saiba morrer o que viver não soube!

Bocage

pintura de anA marques

Poema de Bocage
Técnica mista sobre madeira
160 x 90 cm


Nascemos para amar; a humanidade
Vai tarde ou cedo aos laços da ternura.
Tu és doce atractivo, ó formosura,
Que encanta, que seduz, que persuade.

Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão n’alma se apura,
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.

Qual se abisma nas lõbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.

Amor ou desfalece, ou pára ,ou corre;
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.

Bocage

pintura de anA marques

Poema "Interrogação"
de Camilo Pessanha
Óleo sobre tela
80 x 60 cm

Interrogação

Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do "Cântico dos cânticos".

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.

Camilo Pessanha

 

pintura de anA marques

Poema "Demissão"
José Saramago
Acrilico sobre Tela
100 x 80 cm

Demissão

Este mundo não presta,venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão:sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos se dependentes.

José Saramago

pintura de anA marques

Poema "Aqui na orla da praia"
Fernando Pessoa
Óleo sobre tela
60x150 cm


Aqui na orla da praia

A vida é como uma sombra que passa por sobre um rio

Ou como um passo na alfombra de um quarto que jaz vazio;

O amor é um sonho que chega para o pouco ser que se é;

A glória concede e nega ; não tem verdades a fé.

Fernando Pessoa



A autora, anA marques, é artista plástica, com formação em pintura e desenho na Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa. Expõe regularmente em Portugal e desde 1999 pinta a poesia e sobre a poesia de autores portugueses. De Bocage, Camões, Fernando Pessoa, Camilo Pessanha, José Saramago, David Mourão Ferreira, Maria Teresa Horta, etc. Dos 14 trabalhos sobre a vida e obra do Poeta Bocage, 8 deles deram início formal às comemorações do Ano Bocage 2005 numa exposição na Casa Bocage em Setembro de 2004.

E-mail: GARRIDAS@sapo.pt

Página Publicada em 08/dez/2004