03/DEZ/2003
BOLETIM INFORMATIVO SEMANAL
da Casa da Cultura
Caro(a) Amigo(a) Assinante,
MODERNIDADE (I. MEU FOGÃO)
Antigamente - nos tempos em que transporte significava cavalo, e iluminação significava lamparina de óleo - a vida era muito diferente de hoje.
A fabricação de um fogão, por exemplo, era uma tarefa impensavelmente difícil: o ferreiro-artesão, quase sempre analfabeto, tinha que compreender e dominar todas as etapas do processo; desde elaborar o projeto em sua cabeça, até construir o artefato sozinho, usando toscas ferramentas como forno de lenha, martelo, bigorna...
Com meios tão precários, não é à toa que os suportes para as panelas acabassem parecendo algo assim:
Uma forma tosca, sem qualquer estilo ou design, que servia apenas para sustentar panelas e nada mais...
Mas há um detalhe: funcionava! Sustentava panelas... de qualquer tipo ou formato.
Hoje tudo é completamente diferente. No mundo globalizado, o projeto de um fogão é feito por dezenas de profissionais especializados e pós-graduados nas mais diversas áreas: marketing, design, engenharia... O desenho é feito não em uma única cabeça exausta, nem em uma prancheta, mas sim em ultra-computadores com moderníssimos CAD, que geram imagens tridimensionais animadas, que podem ser rotacionadas e observadas sob todos os ângulos possíveis.
No fim, com tudo isso, os suportes para as panelas acabam ficando assim:
Um design arrojado, atual, sofisticado... realmente o máximo... próprio para pessoas com estilo, que sabem o que é bom...
Mas há um porém: ele não serve para apoiar panelas.
Ao contrário daquele desenho do velho ferreiro, este não oferece apoio contínuo ao longo de quatro direções. Ele deixa pontos instáveis à frente e atrás, e, assim, se uma panela média for colocada sobre ele, com o cabo virado para frente ou para trás, ela tomba sozinha. Sei bem disso porque esse é o fogão que tenho em casa.
Mas os problemas não param aí. Além da perigosa armadilha das panelas que tombam sozinhas, esse prodígio moderno tem um sistema de prateleiras no forno (do tipo que vem para a frente quando a porta abre) que fica inclinado uns 10 graus, fazendo com que os bolos queimem de um lado e fiquem crus do outro!
Em resumo: a sofisticada equipe de profissionais criou um fogão que não serve nem para cozinhar nem para assar!
Surpreendente?
Nem tanto. Na verdade, o caso do fogão é apenas a ponta do iceberg. Atrás dele está o mais grave problema do mundo moderno: a imbecilização de todos nós.
Antigamente, o ferreiro não imaginava que acima dele existisse alguém ou algo cuidando do rumo das coisas. Ele próprio tinha que pensar e decidir cada detalhe do fogão, e sabia que, se não o fizesse, ninguém faria. Ele era dedicado à sua atividade tanto quanto os animais na natureza são dedicados às deles.
Mas se pegarmos um animal e o prendermos em uma jaula - onde ele não precise caçar, nem fugir dos perigos - a dedicação e o interesse acabam. Esse é o homem moderno. Um ser aprisionado, cujas principais responsabilidades e decisões estão nas mãos de outros: o Estado, a empresa, a mídia... Estes o tratam como um eterno moleque em uma eterna escola; e ele acaba se tornando exatamente isso.
Roubaram do homem o atributo mais precioso que a natureza lhe deu: a responsabilidade por sua própria vida. Tiraram o projeto do fogão de sua mente, e o colocaram em um CAD. Substituíram a maravilhosa criatividade de suas mãos por gestos maquinais em uma linha industrial. E o que restou? Dúzias de especialistas para cada minúcia do fogão (e da vida), e nenhum ferreiro que compreenda o fogão (ou a vida) por inteiro.
Este artigo é o primeiro de uma série sobre a modernidade. Através deles, tentarei mostrar como - além de estarmos perdendo nossa dignidade natural - estamos nos trancafiando em um zoológico que não funciona! ... mostrar que a era das trevas... é agora.
PS: Se alguém souber de um bom ferreiro, por favor me avise.
André Carlos Salzano Masini
Continua na próxima semana...O autor é Auditor Fiscal da Receita Federal e Escritor
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