Casa da Cultura    


Boletim Informativo Semanal

Ano II, número 25 - Quarta-feira, 25 de agosto de 2.004   

Casa da Cultura Literatura Trabalhos de A. C. Masini


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Bom Dia, Amigo(a) Assinante, (ou Boa Noite) 

E-book - Poesias, de Agostina Akemi Sasaoka: Foi uma grande satisfação editar o trabalho dessa poetisa, que o nosso conselho editorial situa entre as melhores da atualidade em nosso país. Seus versos envolvem o leitor em uma intensa experiência sensorial; sua musicalidade insinuante, sibilante, repleta de aliterações e consonâncias flui como um rio, um rio que atravessa o mundo dos impulsos e sentimentos primordiais, um mundo de impressões viscerais, biológicas... e flui através desse mundo cru com surpreendente sutileza. É poesia de rara franqueza e coragem... e às vezes de extrema sensualidade. Das poesias aqui apresentadas, algumas são inéditas, outras foram publicadas no livro "Poros", Editora Komedi, 1997, obra que também está disponível em versão eletrônica. [Download Gratuito]

Artigo: Geração 'hã?', de Marco Poli: O artigo, editado em nossa série de debates sobre a Modernidade, fala da estupidificação das pessoas: "... Falo de quem apenas se espelhou num universo criado por seus pais, onde só existe valor naquilo que se possui. Não há valor naquilo que se traz como bagagem individual. Portanto, não há mais necessidade de qualquer tipo de bagagem. A história, a cultura, a sociedade, tudo isso ficou reduzido ao turbilhão que roda em torno de cada um dos novos umbigos." O autor é Jornalista e Diretor de Redação do sítio WEB capitalgaucha.com.br.
[Painel de Debates: A Modernidade]
[Leia o artigo completo]

Conto - O Prefeito, de Maria A. S. Coquemala: O conto publicado hoje é a engraçadíssima história de um prefeito recém empossado e seu aloprado amigo "Professor Poincaré", que sem qualquer resquício de bom senso tentam colocar certas idéias "democráticas" em prática, e criam uma tremenda confusão. Não deixe de ler!
[Leia também os contos de humor de André Masini]

Muitas outras obras, dos mais diversos gêneros, todas gratuitas e sem propaganda de qualquer tipo, você encontra em nosso sítio WEB, não deixe de nos visitar. Agora temos um mural informativo das últimas novidades, atualizado semanalmente: [Link para o mural de últimas novidades da Casa da Cultura]

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O Prefeito

Maria A. S. Coquemala

Eleito, quis de imediato ouvir o povo em suas mais profundas aspirações, conforme prometido em campanha. Solicitou ao secretário, Prof. Poincaré, amigo e emérito pesquisador de matemática, estreante em cargo político, que convocasse todos os munícipes, sem qualquer restrição. Democracia é participação, daí que todos deveriam participar, ensinava ele.
Aquele “todos”, levado ao pé da letra pelo professor Poincaré, profundo conhecedor das ciências exatas, mas desconhecedor da natureza humana em suas complexas manifestações, levou-o a organizar o atendimento começando pelas criancinhas, pois “todos” são todos mesmo, de qualquer idade, inclusive elas. Que encheram a Prefeitura, chilreando seus cândidos pedidos, bolas, sorvetes em milhares de sabores, bicicletas, pipoca, pirulitos, bichinhos, bexigas coloridas, flechas, apitos, peixinhos, gatos e cachorros, patinetes, ruas só com descidas... Sua Excelência coçou a cabeça, difícil descobrir a mágica de ruas só com descidas, subidas nunca, mas haveria de conversar com Poincaré... Quanto ao resto, sempre se poderia dar um jeito...
Mas Poincaré, sempre sério e atencioso, já convocava os adolescentes, fizessem seus pedidos, também faziam parte do “todos”. E a vetusta Prefeitura se encheu de rabos de cavalo e bonés com abas para trás, o que levou o distraído secretário a se perguntar se meninos tinham agora algum problema visual, ou quem sabe? Um novo olho na nuca, havia que protegê-lo... Como quer que fosse, o recinto se encheu de vozes e cores, tênis luminosos, jeans apertadíssimos e camisetas enormes, chicletes e “piersing” nos umbigos e narizes, celulares, radinhos, colares e tatuagens, todos pedindo clubinhos exclusivos, imensas mesadas, liberdade total, com pais e na escola, substituição dos velhos e ranzinzas professores de mais de 25 anos, queima da velharia guardada nas bibliotecas, o mundo exigia idéias novas... Sua Excelência aproveitou a data, dia de S João, fez enorme fogueira com a livraiada, aposentou todos os idosos professores conforme o solicitado, proclamou as liberdades pedidas, uniformes foram também queimados, despertadores agora inúteis foram quebrados em praça pública como símbolo da liberdade conquistada. E pra mostrar modernidade, ele mesmo colocou um “piercing” no nariz. Verdade que ouviu alguns comentários maliciosos, xiiiiiiii, o prefeito pirou... Entre outros de que preferia nem falar... Ser prefeito é ser paciente, filosofava...
Então Poincaré convocou os velhinhos, afinal precisavam ser ouvidos antes que morressem. Atendidos, morreriam felizes. Estavam pedindo dentaduras de ouro, pílulas achocolatadas, elixir da juventude, bibliotecas lotadas com antigos e famosos clássicos da Literatura e sábios de todos os tempos, quando foram interrompidos por Sua Excelência que desconhecia a mágica de fazer os livros voltarem das cinzas já espalhadas pelo vento no dia de S. João. No resto, talvez pudesse também dar um jeito. E em sinal de compreensão, passou a usar uma elegante bengala, o que levou alguns cínicos a verem nela um símbolo fálico... Mas Sua Excelência preferiu ignorar as risadinhas à socapa, ser prefeito é engolir sapos sorrindo, continuava ele filosofando...
Mas Poincaré, incansável, já pedia a Sua Excelência que atendesse aos profissionais liberais que entre tantas outras coisas, queriam espaço e liberdade para o exercício da profissão, nada de alvarás e outras exigências burocráticas, emperradoras do progresso. Todos os espaços públicos da cidade foram, pois, liberados, médicos passaram a atender sob os ipês floridos, cachorros farejando sangue rodeavam cirurgiões, exames médicos atraíam platéia de todas a idades, deixando perplexo o sábio Poincaré. Advogados empertigados em ternos e gravatas ouviam clientes nas ruas; dentistas trabalhavam sob as árvores, amálgamas se enriquecendo com o cocô dos passarinhos; arquitetos, paradoxalmente, projetavam mansões de sonho no pó do chão, crianças se deliciavam com os belos desenhos, mas que o vento teimava em desmanchar...
E vieram as mães, Poincaré era incansável, mas desesperadas pediam a retirada das criancinhas da rua, estavam se matando em guerras de flechas e pirulitos, fizesse voltarem os adolescentes à escola, ouvir músicas em altíssimo som em casa era desesperador... E era tanta a gritaria que Sua Excelência em sinal de solidariedade colocou uma pleonástica faixa em frente à Prefeitura, “Amo todas as mamães”, alterada à noite por algum engraçadinho, de modo tal que nem se pode contar aqui. O que gerou um clima de risadas gerais na cidade. Então Sua Excelência, cansado de mudanças, incapaz de construir ruas sem subida, só descida, de extrair livros das cinzas; cansado de suspeitas risadinhas e filosofia consolativa, arrancou o “piercing”, jogou para longe a bengala, exonerou Poincaré e contratou um secretário surdo-mudo.


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