Bom Dia, Amigo(a)
Assinante, (ou Boa Noite)
Estivemos ausentes: Pedimos desculpas ao(à)
leitor(a), pois, devido a dificuldades operacionais, não
pudemos publicar o Boletim nas últimas duas semanas...
Mas eis que estamos de volta.
Troque o celular por uma galinha gorda:
Hoje publicamos essa engraçadíssima crônica
do escritor e jornalista Xico Sá,
que fala da onipresença dos telefones celulares ("Tá
todo mundo de pescoço torto, cabeça decaída
para um lado, parecendo frei Damião") e da ansiedade
dos tempo em que vivemos. O texto faz parte de nossa Série
de Debates: artigos, crônicas e poemas sobre "A
Modernidade": [Clique
Aqui para acessar o painel com outros excelentes textos sobre
o tema].
Utilidade Humano-Canina: Bem... alguém
poderia chamar de "utilidade pública", mas
nós preferimos "Humano-Canina", pois tal
"utilidade" poderá vir a ser um bálsamo
para a alma de alguém, e,
tratando-se de alma, a palavra "pública"
parece um tanto inapropriada...
Mas, trocando em miúdos, estamos procurando uma pessoa
que esteja pronta para receber o amor e a dedicação
de uma simpaticíssima, alegre, carinhosa, supersaudável
e cheia de vida cadelinha, e a retribuir-lhe esse amor e dedicação.
A bichinha chama-se (provisoriamente) Eleonora Maria [o(a)
futuro(a) dono(a) poderá lhe dar um outro nome, se
quiser], tem apenas 11 meses e foi recolhida das ruas de São
Paulo pelas irmãs Chris e Márcia Olivieri, que
lhe proporcionaram todos os cuidados: assistência veterinária,
vermifugação, vacinação completa,
alimentação, banho, e, algo muito importante,
a castração. A castração facilitará
a tarefa do futuro dono (pois Eleonora Maria não terá
nem cio, nem filhotes) e é uma medida (esta sim de
caráter público) de grande eficácia para
evitar que novos cães possam correr o risco de abandono.
Ela tem porte médio, é amorosa e convive muito
bem com outros cães, gatos e crianças.
Os cães, sua companhia, amor e fidelidade, são
um dos maiores presentes que Deus deu aos seres humanos. São
uma presença altamente benéfica para o desenvolvimento
da personalidade e afetividade de qualquer criança,
principalmente nos dias frios, mecânicos e globalizados
de hoje. Além do afeto, o relacionamento com o animal
é um excelente meio natural de se aprender respeito,
limites e empatia por um outro ser. Os pais têm oportunidade
de mostrar à criança que certos atos (como bater,
puxar o rabo, etc...) machucam o animal e portanto não
devem ser feitos. Aprendendo a não fazer tais coisas,
a criança estará aprendendo respeito e limite,
e estará mais apta a compreender e conviver bem com
os seus semelhantes.
Se você estiver interessado(a), ou tiver qualquer dúvida,
não hesite em entrar em contato conosco. Nosso interesse
é esclarecer todas as dúvidas para garantir
que a adoção seja algo positivo tanto para o(a)
novo(a) dono(a) quanto para Eleonora Maria.
[E-mail de contato
para esclarecer dúvidas sobre a adoção
da cadelinha Eleonora Maria].
A Casa da Cultura verificou e garante a veracidade de todas
as informações sobre esta cadelinha. Agradecemos
de coração toda a divulgação e
colaboração.
Também sobre a questão dos cães
e seres humanos, não deixe de ler a comovente
crônica de André Masini : [Morrer,
dormir... talvez sonhar]
Um abraço fraternal,
Casa da Cultura
AJUDE A DIVULGAR A CASA DA CULTURA retransmitindo nossas comunicações
a seus amigos e conhecidos.
Obrigado.
Troque o celular por uma galinha gorda
Xico Sá
O glorioso inventor da ansiedade, Alexander Graham Bell (1847-1922),
deve se arrepender até hoje da sua patente telefônica.
(Como Santos Dumont, dândi brasileiro em Paris, que
maldisse do seu próprio brinquedo ao vê-lo nos
céus da guerra).
Nestes tempos em que celular virou brinco, eternamente colado
às "oiças" de madames, de moçoilas,
de executivos e de modernos em geral, uma reflexão
recente de dona Maria do Socorro, brava sertaneja, mãe
deste que vos berra, vem como pílula mais do que apropriada:
"Conheci teu pai, namorei, casei, engravidei de todos
vocês, criei minha família, cuidei de tudo direitinho,
graças a Deus não morreu nenhum... E nunca precisei
dar ou receber um telefonema, nem unzinho mesmo!".
Mulher do sertão, que só pegou em um telefone
depois dos 50 anos, anda revoltada com parentes e amigas que
vivem grudados ao celular. "Tá todo mundo de pescoço
torto, cabeça decaída para um lado, parecendo
frei Damião, por causa dessa moda nova. Ora, voltem
a pôr as cadeiras nas calçadas, na frente das
casas, e vão conversar sem o diacho desses aparelhos."
A máxima aceleração de ansiedade à
qual dona Socorro submeteu os seus batimentos cardíacos
foram os berros do carteiro.
A lamúria da falta do telefonema do dia seguinte,
protesto do novo código do bom-tom das moças,
também é situação nunca dantes
vivida. Sem a invenção do velho Graham Bell,
o dia seguinte nascia sob aurora mais sossegada.
Antigamente, tudo dependia mesmo da dramaturgia do encontro.
A onipresença amorosa e/ou comercial instaurada com
o celular não era coisa deste mundo. Uma carta, no
máximo, poderia ser uma estratégia, garrafa
atirada ao mar de tantas Penélopes.
Um recado pelo rádio também valia, mas para
casos de sumiços de verdade -cheguei a ser sub do sub-redator
de programa do gênero, comandado pelo locutor Gevan
Siqueira, na rádio Vale do Cariri, em Juazeiro, com
recados amorosos e novelinhas à moda de "Tia Júlia
e o Escrevinhador", de Vargas Llosa.
Deixemos de ser plantonistas do mundo. No amor, assim como
nos negócios, não somos tão importantes
a ponto de alimentar essa onipresença digital. Casanova
amou centenas de mulheres sem precisar de um telefonema sequer.
No mundo dos negócios, muita gente também fez
fortuna sem telefone, acreditando apenas no olho do dono como
engorda caixa da bodega.
Quer jogar conversa fora, faça como a velha recomendação
de um Jeca Tatu: "Mate uma galinha gorda no domingo e
me convide para comer".
O autor, Xico Sá, é jornalista e escritor,
e edita o site de crônicas
de costumes O Carapuceiro (www.carapuceiro.com.br).
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