Casa da Cultura    

Boletim Informativo Semanal

Ano II, número 40 - Quarta-feira, 22 de dezembro de 2.004   

Casa da Cultura Literatura Trabalhos de A. C. Masini


    Exemplar de Assinante Conveniado

Bom Dia, Amigo(a) Assinante, (ou Boa Noite)


"Neste tempo de Natal, eu a saúdo; não como o mundo normalmente envia saudações, mas com profunda estima, e com preces que, para você, hoje e para sempre, o dia nasça, e as sombras se vão embora." (Fra Giovanni Giocondo: arquiteto, arqueólogo e acadêmico veronês, em uma carta escrita na noite de Natal, 1513)

Nós da Casa da Cultura desejamos a você querido(a) assinante, com profunda estima, um Feliz Natal, muita luz, paz e harmonia, e que qualquer sombra se vá embora, para sempre.

André Masini
Elizangela de Carli
toda equipe da Casa


Noite de Natal: Esse conto que hoje publicamos é da escritora e professora de Literatura Maria A. S. Coquemala. Engraçado e triste ao mesmo tempo, o texto narra as desventuras de um sujeito que tenta um bico de Papai Noel.
[Leia outros contos dessa e de outros autores, na Seção de Contos da Casa da Cultura]

A história que não quer apagar - Num artigo bem inspirado para essa época de Natal, o jornalista Carlos Laranjeira conta como, 35 anos atrás, conheceu irmã Dulce: uma imagem de bondade e altruísmo que permanece em sua memória, como um exemplo de atitude elevada que motiva e dá sentido à vida.
[www.casadacultura.org/Literatura/Artigos/g01/historia_nao_quer_apagar_CL.html]

Papai Noel existe? Vale à pena falar às crianças de Papai Noel? Nesse artigo, o professor e escritor Mário Eugênio Saturno, examina o consumismo, o verdadeiro sentido do Natal, e a origem da figura de Papai Noel:
[www.casadacultura.org/Literatura/Artigos/g01/Papai_Noel_existe_Mario_Saturno.html]

Poema de Natal - Versos da jornalista, psicóloga e poetisa Clevane Pessoa de Araújo Lopes, sobre o nascimento de Cristo.
[www.casadacultura.org/Literatura/Poesia/g02/Poema_Natal_Clevane_Pessoa.html]

O Natal na Ficção Científica: Nossa seção de Ficção Científica, ainda incipiente, tem a satisfação de apresentar o conto "Natal no Olimpo", do jovem e criativo escritor Rogério Amaral de Vasconcellos. Ele narra os acontecimentos do Natal de três prisioneiros em um universo fantástico.
[www.casadacultura.org/Literatura/Ficcao_Cientifica/Ficcao_Cientifica_idx.html]

Um abraço natalino,
Casa da Cultura

AJUDE A DIVULGAR A CASA DA CULTURA retransmitindo nossas comunicações a seus amigos e conhecidos.
Obrigado.


Noite de Natal

Maria A. S. Coquemala

Engordei demais, os cabelos embranqueceram, sequer faço a barba, se encaracolando, seqüelas do desemprego que já dura anos. Mais uma vítima do capitalismo selvagem, vivo repetindo, plagiando político em tempo de eleição, talvez porque me tenha tornado preguiçoso até para ter idéias próprias... De algum modo, tento me justificar, ao menos perante minha mulher, um contraste. Inesgotável a energia que a move, trabalhando na escola, vendendo cosméticos, cuidando da casa... É condescendente comigo, porém sei o que ela pensa, sou vítima, sim, mas do temperamento briguento, daí que poucos me aturam... Mas, nada me cobra, sabe que é impossível torcer o pepino maduro. Sintomaticamente, adora a citação das mulheres nordestinas, homens são todos diferentes, mas marido é tudo igual...

E aconteceu naquela noite, Natal chegando, em frente à loja de brinquedos. Uma criança me chamou de Papai Noel, grudou-se em mim, pedindo presente. Repeli o menino importuno, falei um palavrão. O tempo tinha esfriado, eu usava jaqueta avermelhada, um contraste com a barba e os cabelos brancos... Natural que o menino se confundisse, minha mulher apaziguava...

E daí lhe viera a idéia... Por que não trabalhar um pouco como Papai Noel, um modo de ganhar algum dinheiro sem muito esforço? Ajudaria nas invitáveis despesas de fim de ano. Sugestão que topei de má vontade, não sei lidar com crianças.

Assim, me tornei um entre os papais-noéis de uma grande loja de brinquedos. E na festiva noite natalina, saí para as entregas. Já no primeiro semáforo, o guri humildezinho se aproxima, quer presente, tantos no carro... Me compadeço, é preciso explicar que nada ali me pertence. Guri que mostra uma arma enorme, ameaçando, ou leva presente ou atira. No sufoco, pego qualquer um. Prossigo, paro na lojinha ainda aberta, compro o macaco made in China, que requebra cantando em espanhol. Reposto o presente, parto para as entregas...

Como poderia imaginar que criancinhas inocentes aguardassem Papai Noel com seus truques e artes? Mal entro, ho ho ho, o menino, sorrateiro, tenta me arrancar a barba. Barba que é minha mesmo. O fdp leva cascudo, grita feito doido, mamãe não entende, mas papai sim, autor intelectual da safadeza... Tudo explicado entre risadas. Controlo impulsos assassinos jamais imaginados...

Segunda entrega, a menina me espera, sentada, quietinha, na sua cadeirinha enfeitada. Levante, meu amor, tento ser gentil, Papai Noel chegou com lindos presentes para você. Menina que não levanta, só então percebo, está doente, pernas e braços fininhos, mal sustém a cabeça. Papai Noel gostaria de ser pássaro, voar pela janela aberta, desaparecer no infinito céu estrelado... Mamãe chora disfarçando, papai fechou a cara. Sou mesmo um fdp...

Chego à mansão, o empertigado mordomo me atende, e eu que pensava que mordomo fosse espécie extinta, coisa agora só de romance policial, sempre culpado de ocultação de cadáver, e ali um vivo e solene. Entrego o presente ao rico menino. O macaquinho canta e dança, mas a cara de todo mundo é estranha, Papai Noel, eu pedi aquele maravilhoso celular faz-tudo, dá até pra ver filminho e fotografar, procura direito aí no saco... Chamo papai a um canto, gaguejo, tento me explicar, papai me olha desconfiado. Vai telefonar à loja, alguém vai ter que devolver o dinheiro etc, etc e etc... Saio, levo o macaquinho, ainda cantando, Ai, Chiquita, linda muchacha, te quiero mucho.....Deixo pra pensar depois como pagar o celular importado, me livrar de encrencas.

Sinto as botas apertando, devo ter bolhas, subo a escadaria, me aguardam lá em cima pertinho do céu, todo mundo cantando, há tantos menininhos e menininhas... Tenho que descer, errei de saco, era o outro, o imenso... Subo outra vez, os pés doem, meu Deus do céu, como aceitei a sugestão da louca da minha mulher sem pensar nas implicações?

Já rodei quilômetros, estou no final da periferia, é meia-noite, bebi mais do que devia... E, afinal, onde moram Leide Daiane e Lovenilson Robert? Que nomes, pqp...

Enfim a casinha. Papai, mamãe, filhotes e cachorro à porta, todos ansiosos. Tem carrinho de plástico para Lovenilson, uma Barbie chinesa para Leide. Sorriem todos, tenho que ficar pra ceia natalina, é parte do programa deles, está na mesa, mas ceia composta de duas latinhas de cerveja, frango assado de TV de cachorro, arroz com feijão, sagu na sobremesa ou algo parecido.. Jamais gostei de frango, e arroz e feijão à meia-noite não me apetecem, mas, melhor honrar a pobre gente. Então me lembrei do macaquinho. Que encheu a pequena sala de requebros, a musiquinha saiu pela janela, se espalhando pela rua... Vizinhos vieram e juntaram-se a eles com suas pobres ceias, a pequena casa se encheu de tal modo, que trouxeram também cadeiras e mesas, se espalharam pelo quintalzinho, e vieram gatos e cães, até um papagaio apareceu... Um casal chegou, tão pobrezinho, de nomes Maria e José, assim se apresentaram, ela grávida... E todos acharam que uma das estrelas brilhava mais ainda, envolvendo tudo numa luz dourada... Três homens que passavam pediram licença, de algum modo queriam também confraternizar, então presentearam o casal pobrezinho com seus modestos pertences, um velho relógio, uma escura correntinha dita de prata e uma aliança sem brilho. Mas aceitos como jóias preciosas naquele momento mágico. Posto o que, também comeram e beberam, depois humildes se despediram e se foram, Maria e José com eles. Ainda se ouviu o ronco do carro partindo a toda... E alguém, súbito, se lembrando que tinham chegado a pé...

* * *

Como explicar a ela as desventuras da noite que findava, carro roubado, ter que pagar o celular importado do menino rico?  Então a presenteei com o macaquinho requebrento, ai, Chiquita, linda muchacha, te quiero mucho... Estrelas brilharam em seus olhos. Paz na terra às mulheres de boa vontade...


ASSINATURA E CANCELAMENTO

Este boletim é um serviço gratuito da Casa da Cultura. Para assiná-lo, basta informar seu nome e e-mail na página de assinaturas em nosso sítio [clique aqui].

Sua privacidade é garantida, seu direito de cancelamento da assinatura também, a qualquer momento, sem que lhe seja feita qualquer pergunta ou restrição. Se você tem dúvidas, todas elas podem ser sanadas em nosso sítio:

[Conheça o Boletim Informativo Semanal da Casa da Cultura]

[Informações sobre segurança e sigilo do nome e e-mail do assinante.]

[Detalhes sobre os tipos de assinatura: Assinantes Exclusivos e Conveniados]

[Por que confiar na Casa da Cultura?]

Para cancelar sua assinatura:

[Cancelar Assinatura]