Casa da Cultura    


Boletim Informativo Semanal

Ano II, número 05 - Quarta-feira, 03 de março de 2.004   

Casa da Cultura Literatura Trabalhos de A. C. Masini

    Exemplar de Assinante Conveniado    

Bom Dia, Amigo(a) Assinante, (ou Boa Noite) 

Artigo: O artigo dessa semana, "Bicha explode no ar!", é uma engraçadíssima crônica sobre dois assuntos cuja relação está longe de ser óbvia: os incômodos das viagens aéreas e a maldade humana. O artigo foi publicado hoje, 03/03/04, no Jornal O Paraná. Para ler outras crônicas humorísticas de André Masini, acesse: [http://www.casadacultura.org/andre_masini/artigos/index.html]

E-books de José de Alencar: Os(as) Assinantes Exclusivos(as) da Casa da Cultura receberam, com a presente edição deste Boletim, a senha para acesso e download gratuito da coleção de dez e-books de José de Alencar, em edição especial e reservada (formato pdf). Tornar-se Assinante Exclusivo(a) é fácil e gratuito, basta informar nome e e-mail.
[Clique Aqui para ir à página de Assinatura Exclusiva da Casa da Cultura.]
[Clique Aqui para maiores informações sobre assinaturas e segurança]

Saudações,
Casa da Cultura

AJUDE A DIVULGAR A CASA DA CULTURA retransmitindo nossas comunicações a seus amigos e conhecidos.
Obrigado.


Artigo:

BICHA EXPLODE NO AR!

André C S Masini

Certa vez, passando diante de uma banca de jornais na cidade de São Paulo, eu deparei com a seguinte manchete:

"Bicha explode no ar!"

Aquilo me pareceu tão assombroso, que não pude evitar me misturar ao bolo de pessoas paradas que liam os jornais expostos.

A manchete era um tablóide sensacionalista, já extinto, chamado Notícia Popular, mas bastavam duas linhas da matéria para entender que, obviamente, ninguém tinha "explodido no ar".

Ao lado do NP, o sóbrio Estadão tratava do mesmo fato sob o título: "Cabeleireiro ameaça a tripulação em vôo comercial." A matéria dizia: "Fulano de tal, 29 (...) sofreu uma crise nervosa no vôo tal e ameaçou perfurar uma lata de laquê, o que, segundo ele, causaria a explosão do avião (...) foi preso e depois liberado..."

À parte o incrível exemplo de como uma mesma história pode ser noticiada e contada de maneiras distintas, o caso me chamou a atenção por outro aspecto. Eu me pus a imaginar o que teria passado na cabeça das pessoas, fechadas numa lata com centenas de outras, a vários quilômetros de altura, assistindo alguém ameaçar explodir tudo com um spray de laquê...

Pareceu-me até engraçado... Até que, anos depois, eu passei por situação semelhante:

Eu tentava voltar de Fortaleza para São Paulo, por uma das recém criadas empresas aéreas econômicas...

Às duas da manhã, depois de cinco horas de atraso, as pessoas na fila para o embarque pareciam um grupo de refugiados de alguma catástrofe: abatidos, exaustos e com os nervos à flor da pele. Durante todo o tempo que esperáramos ali, não havíamos visto um único funcionário da companhia, até que de repente apareceu um homem com chapeuzinho de aviador (seria ele o próprio piloto?) e, sem dizer palavra, abriu a porta soltando a manada para disputar o embarque no tapa.

Apesar do corre-corre e do empurra-empurra, acabamos todos dentro do avião, ainda bufando de impaciência, mas ao menos aliviados por termos conseguido embarcar. Parecia que chegaríamos em casa...

A comissária (sim, havia uma) deu a famosa ordem para "colocar os encostos na posição vertical"... e foi aí que tudo começou:

De meu lugar, pude ver, pouco atrás, uma senhora lutando com a própria poltrona. Quando entendeu que a poltrona não pararia mesmo na vertical, ela ergueu-se, os olhos desvairados, e, com o avião já na pista, gritou para a comissária:

-- Pare o avião! Eu vou procurar outra cadeira! Não decole até eu dar ordem!

(Para muitos, depois de cinco horas de espera, aquilo pareceu um insulto.)

Mas a comissária fingiu não ouvir, e o avião decolou, enquanto a mulher equilibrava-se pelo corredor e sumia em direção à calda.

Lá da frente nós não vimos nada. Mas quando a mulher chegou à única outra cadeira livre do avião, e descobriu que aquela também estava quebrada... ela entrou em pânico!

Ao pousarmos na escala em Recife, ela reapareceu discursando no corredor, ordenando a todos que descessem e exigindo que o avião ficasse no solo até que se fizesse uma revisão completa.

Aos trambolhões ela saiu, e eu ouvi um funcionário na escada explicando a ela que só haveria lugar em outro vôo daí a três semanas.

Torci para que a mulher não voltasse, mas, meia hora depois, quando a porta do avião se fechava, ela reapareceu, esgueirando-se pela última fresta. Continuou berrando sobre o risco daquele vôo. Os passageiros apenas resmungaram entre dentes.

Mas aí o avião se pôs em movimento, e, como por mágica, a mulher sentou-se e aquietou-se.

Tudo acabara bem: seguíamos a caminho de casa, e a mulher se calara.

Mas aí, surpreendentemente, os outros passageiros, aqueles inofensivos cidadãos que só queriam voltar pra casa, resolveram se manifestar.

O curioso é que, enquanto a mulher esbravejava ameaçadoramente, ninguém falara nada; mas, agora que se aquietara, passavam a zombar dela, com comentários em voz alta, risadinhas maldosas, e até ficando de joelhos na poltrona para encará-la. Um jovem advogado a ridicularizava em jargão jurídico, uma adolescente a fitava e ria, parecendo estar num êxtase de alegria.

A infeliz se encolhera na poltrona e ouvia a tudo quieta, como um animal assustado.

Não que eu achasse que ela não houvesse errado, muito menos que as pessoas não devam responder por seus atos. Acho até que, houvesse a cena se prolongado, teria sido correto que a tripulação a retirasse do avião. Mas algo muito diferente é alguém se valer de uma situação como essa para, covardemente, exercer seu sadismo.

Quando o avião pousou, um homem fez um incompreensível discurso, acusando-a entre outras coisas de ser "atéia"... e todos aplaudiram histericamente...

Já era demais!

A meu lado, um distinto senhor negro, que não dera um pio a viagem toda, balançou a cabeça em desaprovação.

De algum lugar, veio a voz de um jovem homossexual:

-- Cheeega gente!

Mas não chegou.

Uma hora depois, quando a mulher pegava o táxi diante de mim, ainda havia um jovem zombando dela.

Naquela noite, a bicha explodira no ar!

A bicha da maldade humana, que vem à tona explosivamente, sempre que lhe dão oportunidade.

O autor é Auditor Fiscal da Receita Federal, Escritor e Diretor Geral da Casa da Cultura

ASSINATURA E CANCELAMENTO:

Este boletim é um serviço gratuito da Casa da Cultura. Para assiná-lo, basta informar seu nome e e-mail na página de assinaturas em nosso sítio [clique aqui].

Sua privacidade é garantida, seu direito de cancelamento da assinatura também, a qualquer momento, sem lhe seja feita qualquer pergunta ou restrição. Se você tem dúvidas, todas elas podem ser sanadas em nosso sítio:

[Conheça o Boletim Informativo Semanal da Casa da Cultura]

[Informações sobre segurança e sigilo do nome e e-mail do assinante.]

[Detalhes sobre os tipos de assinatura: Assinantes Exclusivos e Conveniados]

[Por que confiar na Casa da Cultura?]

Para cancelar sua assinatura clique aqui: (depois envie o e-mail) ou entre na página WEB http://www.casadacultura.org/d/boletim/canc_ass.html e clique no link "Quero cancelar minha assinatura".