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Dia, Amigo(a) Assinante, (ou Boa Noite)
"Pró-Vida, Pró-Morte", artigo
de André C. S. Masini: Não é
apenas na política externa que o presidente estadunidense
George Bush é uma calamidade. No cenário interno,
além de aumentar dramaticamente o desemprego e danificar
a estrutura de saúde e assistência social do
Estado, ele instituiu normas (para atender ao interesse de
grupos religiosos fundamentalistas) que impuseram barreiras
intransponíveis aos avanços de certos ramos
da ciência. No artigo de hoje (publicado originalmente
dia 14, no Jornal O Paraná) o escritor André
C S Masini fala do falecimento do ator Christopher Reeve,
o Super-Homem, ocorrido no último dia 10, e de como
esse corajoso ativista (bem como milhões de pessoas
portadoras de deficiências e doenças dos mais
variados tipos em todo o mundo) foi privado da esperança
de cura pela arrogância e pelo autoritarismo de grupos
religiosos fundamentalistas de pretensões teocráticas.
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Dia do Poeta? Tem muita gente por aí
que diz que 20 de outubro é o dia do poeta. Outros
tantos dizem que é dia 04. Nós, da Casa da Cultura,
resolvemos celebrar a data seja ela qual for, pois quanto
à exatidão da data estamos mergulhados em dúvidas.
No ano passado fizemos um Boletim comemorativo na data de
20 de outubro, e recebemos todo o tipo de contestações
(algumas indignadas). Nós até tentamos, mas
não conseguimos encontrar nada de oficial ou definitivo.
Talvez dia 04 seja o "Dia Internacional do Poeta"
e dia 20 seja simplesmente "Dia do Poeta" (sem alusões
a internacionalismo. (Qual autoridade brasileira, presente
ou passada, teria o poder para definir a questão? A
Câmara Federal ou Cruz e Souza?) Confessamos que não
sabemos, mas VIVA O POETA, VIVA A POETISA, e VIVA A POESIA,
dia 04, 20 e todos os dias. (Salvo melhor juízo de
alguma autoridade superior):
- Mas o que vou dizer da Poesia? O que vou dizer destas
nuvens, deste céu? Olhar, olhar, olhá-las,
olhá-lo, e nada mais. Compreenderás que um
poeta não pode dizer nada da poesia. Isso fica para
os críticos e professores. Mas nem tu, nem eu, nem
poeta algum sabemos o que é a poesia. (Garcia Lorca)
- Ao contato do amor, todos se tornam poetas. (Platão)
- Eu não forneço nenhuma regra para que uma
pessoa se torne poeta e escreva versos. E, em geral, tais
regras não existem. Chama-se poeta justamente o homem
que cria estas regras poéticas. (Maiakovski)
- Não sou alegre nem sou triste: sou poeta (Cecília
Meireles)
- O que você acredita que é um artista? Um
imbecil que só tem olhos se for pintor, ouvidos se
for músico, ou uma lira em todos os andares do coração
se for poeta? (Pablo Picasso)
- É tão fácil ser poeta, e tão
difícil ser um homem (Charles Bukowski)
- A bebida desperta o poeta que há em cada um de
nós (Autoria Desconhecida)
- Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade,
e não considero honesto rotular-se de poeta quem
apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou
momentânea tomada de contato com as forças
líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos
e secretos da técnica, da leitura, da contemplação
e mesmo da ação. (Carlos Drummond)
- Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é,
mesmo, um ser à mercê de inspirações
fáceis, dócil às moda e compromissos.(Carlos
Drummond)
- "...meu progresso é lentíssimo, componho
muito pouco, não me julgo substancialmente e permanentemente
poeta."(Carlos Drummond)
- Infelizmente, exige-se pouco de nosso poeta; menos do
que se reclama ao pintor, ao músico, ao romancista...(Carlos
Drummond)
- Eu acredito que a poesia tenha sido uma vocação,
embora não tenha sido uma vocação desenvolvida
conscientemente ou intencionalmente. Minha motivação
foi esta: tentar resolver, através de versos, problemas
existenciais internos. São problemas de angústia,
incompreensão e inadaptação ao mundo.(Carlos
Drummond)
- Não tenho a menor pretensão de ser eterno.
Pelo contrário: tenho a impressão de que daqui
a vinte anos eu já estarei no Cemitério de
São João Baptista. Ninguém vai falar
de mim, graças a Deus. O que eu quero é paz.
(Carlos Drummond)
- Minha poesia é cheia de imperfeições.
Se eu fosse crítico, apontaria muitos defeitos. Não
vou apontar. Deixo para os outros. Minha obra é pública.
(Carlos Drummond)
- Traduzir poemas é tarefa difícil, especialmente
os meus. (Maiakovski)
- Uma outra razão da dificuldade da tradução
de meus versos vem de que introduzo nos versos a linguagem
quotidiana, falada. Tais versos só são compreensíveis
e só têm graça se se sente o sistema
geral da língua, e são quase intraduzíveis,
como jogos de palavras. (Maiakovski)
- A poesia é uma forma de produção.
Dificílima, complexíssima, porém produção.
(Maiakovski)
- Sem forma revolucionária não há arte
revolucionária. (Maiakovski)
Muitas outras obras, dos mais diversos gêneros,
todas gratuitas e sem propaganda de qualquer tipo, você
encontra em nosso sítio
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Um abraço fraternal,
Casa da Cultura
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Obrigado.
Pró-Vida, Pró-Morte
André C S Masini
No último domingo faleceu o ator estadunidense Christopher
Reeve (o Super-Homem), que vivia como tetraplégico
desde 1995, quando sofreu um acidente eqüestre.
O falecimento teve um aspecto trágico. Após
9 anos de luta inglória -- nos quais Reeve enfrentou
sua condição sem perder o ânimo e deu
exemplo de coragem e esperança a milhões de
pessoas -- o falecimento teve um aspecto trágico pelo
fato de ter sido uma lei que roubou desse ser
humano qualquer chance de ser curado pela ciência.
Em agosto de 2001 o presidente George Bush, em nome da religião,
aboliu as pesquisas com células-tronco embrionárias
(fez isso cortando os fundos federais para pesquisas com novas
linhagens de células-tronco, limitando-os a cerca de
60 culturas já existentes). Bush e seus asseclas (em
nome do que chamam de "cristianismo") dão a tal política
o belo nome de "pró-vida" (pro-life). Slogan que soa
bem, mas que na prática é algo calamitoso.
Células-tronco embrionárias são as células
formadas logo após a união de um óvulo
com um espermatozóide. São células indiferenciadas
que ainda não geraram qualquer tecido, muito menos
qualquer órgão, muito menos ainda qualquer traço
de um ser humano. São células indiferenciadas
que se fossem devidamente alojadas em um útero
e se as condições fossem absolutamente
propícias e tudo desse certo poderiam,
talvez, um dia, virem a formar um ser humano.
(Cada um dos espermatozóides que morrem aos milhões
em cada gota de líquido fecundante masculino, também
é uma célula que "poderia um dia vir a formar
um ser humano"). As células-tronco embrionárias,
enfim, são apenas células. E células
que têm capacidade de curar ou abrandar um número
incontável de doenças.
De forma abstrata, o slogan "pró-vida" parece algo
muito bonito. Dá a idéia de que se está
protegendo alguém ou algum "ser humano" frágil
e indefeso. Mas na verdade "pró-vida" não defende
nada de concreto ou palpável, defende apenas o preconceito,
a intolerância e o fundamentalismo religioso de certos
grupos que se dizem cristãos. O resultado prático
de "pró-vida" é condenar à morte, ao
sofrimento e à desesperança milhões de
seres humanos reais, homens, mulheres, crianças, velhos
que respiram neste mundo, e que a cada dia imaginam como seria
bom poder andar de novo, poder parar de tremer, parar de fazer
hemodiálise, enfim... ter saúde novamente. A
todos que conviveram ou convivem com pessoas que padecem nessas
situações, o termo "pró-vida" tem um
gosto amargo de opressão, morte e hipocrisia. No mundo
real, "pró-vida" traduz-se efetivamente em "pró-morte".
Não se trata de defender incondicionalmente a ciência.
Muitas vezes, nesta mesma coluna, procurei mostrar o quanto
a ciência é limitada tanto em escopo quanto em
eficiência. Mostrei que a ciência é apenas
uma de tantas formas parciais de se tentar compreender
o Mundo; que ela está longe de ser inquestionável,
infalível, ainda mais longe de ser absoluta; e que
continua a precisar da filosofia para poder se situar no Universo.
Também não se trata de diminuir o valor do
sentimento religioso, pelo qual sempre tive profundo respeito.
Há pessoas que não aceitam a atitude de certos
cristãos, que morrem por se recusarem a receber transfusões
de sangue; eu sempre respeitei tal opção religiosa.
Alguns cientificistas chegam a propor que o Estado deveria
"ministrar à força" tais tratamentos; eu sempre
repeli tal idéia, pois considero que as pessoas têm
o direito às suas convicções religiosas,
inclusive ao recusar tratamento preceituado pela ciência.
Porém se essas mesmas pessoas, com seus mesmos preceitos
religiosos, tentassem impor suas "verdades" a todos, e tentassem
criar leis para "proibir" e banir definitivamente
a transfusão de sangue para todos, então, o
que era uma convicção religiosa digna de respeito
passaria a ser um fanatismo autoritário abominável.
Pois esse fanatismo abominável é o que existe
hoje nos Estados Unidos, escondido sob o belo nome de "pró-vida".
"Pró-vida" significa criar leis que impõe
os preceitos (e preconceitos) religiosos de certos grupos
a toda a sociedade. Preceitos que significam morte e sofrimento
para muitas pessoas.
Imagino o que pensaria disso aquele sábio, que 2 mil
anos atrás andou por este mundo, pregando tolerância,
solidariedade e flexibilidade, e denunciando a hipocrisia.
Obviamente não foi Dele que esse fundamentalismo fanático
(autoproclamado cristão) do qual Bush faz parte tirou
sua rigidez, arrogância e suas pretensões teocráticas.
Christopher Reeve que o diga.
O
autor é Escritor, Auditor Fiscal da Receita Federal
e Diretor Geral da Casa da Cultura
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