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URGENTE - Querem sacrificar 64 cães, saudáveis,
tratados e vacinados, que esperam adoção: A
Casa da Cultura recebeu um apelo urgente da ONG Cia.
do Bicho, dizendo o seguinte:
Infelizmente as Notícias da Cia. do Bicho não
são boas... Os cães do abrigo (64 agora, após
8 ótimas doações) são na verdade
cães que estão num abrigo dentro da Cidade Universitária
(USP). Não divulgamos o local para não aumentar
o abandono e não colocar o nome da Universidade no
meio da história toda. Agora todos devem saber o que
está para acontecer com eles. Precisamos MUITO de ajuda
para lares temporários e (por que não?) definitivos
para que eles não sejam sacrificados. São animais
em bom estado de saúde, vacinados, a maioria castrada
(faltam somente uns 10 para castrar TODOS). Foram mais de
dois meses de trabalho desde que começamos a ajudar
e tudo para que eles tivessem uma chance. São adultos,
filhotes, alguns mais idosos, a maioria de porte médio,
vários entre porte pequeno e médio, de todas
as cores. Tem fotos de vários no site: http://www.ciadobicho.com.br/abrigo.htm
Por favor, pedimos a ajuda de todos para que possamos salvá-los!
Cia do Bicho
Veja como se manifestar:
O prefeito do campus da Cidade Universitária da USP,Wanderley
Messias da Costa, julgou e sentenciou ao seu bel prazer 64
cães à morte. Através de um ofício
enviado a CCZ (carrocinha) o prefeito solicitou a apreensão
e eutanásia desses cães instalados em um“canil”
dentro da prefeitura da USP. São animais adultos e
filhotes, castrados e vacinados, não são animais
abandonados ou sem nenhum cuidado.
Pedimos sua colaboração urgente no sentido de
manifestar sua indignação através de
e-mails para as pessoas que podem reverter esta situação:
o reitor(gr@edu.usp.br) e o prefeito (pco@edu.usp.br) da USP
Divulgue o conteúdo deste e-mail para o maior número
de pessoas possíveis até 4ª feira, dia
06/04/05.Sugerimos o seguinte texto:
“Não queremos a carrocinha no campus
e somos contra a eutanásia desses animais, pois acreditamos
que outras soluções possam ser encontradas e
somos favoráveis à criação de
uma comissão mista de alunos, professores e funcionários
para tratar desse assunto”.
PS. Mande cópia para o e-mail bicharada_usp@yahoo.com.br
para sabermos quantos somos.
Conto: "Filosofia sobre a solidão em
tarde de outono". Uma instigante história
da escritora Nilza Amaral, onde um personagem
de classe social privilegiada vê-se envolto em um mundo
muito diferente do seu: o mundo dos habitantes de rua: "...
outros habitantes do mundo subterrâneo foram chegando,
se aproximando, envolvendo o nômade inerte num círculo
humano e silencioso, de consideração e resignação.
(...) O bando juntou alguns pedaços de madeira, jornais
velhos, lixo, trapos, e acenderam um fogo. Resolvi fazer parte
daquele velório. Na doença e na morte devemos
ser solidários." Mas o enredo e o desenlace reservam
uma grande surpresa. "A alfinetada da solidão,
essa agonia que nos leva a estranhas avenidas, começava
a instalar-se sorrateira." Literatura da mais alta qualidade.
[Clique
aqui para ler o conto]
Carta de André Masini ao reitor da USP: Juntando-se
à campanha da Cia do Bicho para salvar os 64 cães
do extermínio, o diretor geral da Casa da Cultura enviou
a carta abaixo ao Reitor da Universidade de São Paulo,
junto com uma cópia de seu artigo "Morrer,
dormir... talvez sonhar", publicado no Jornal
O Paraná em 27/abr/2004. Reproduzimos abaixo a carta
e o artigo.
Um abraço fraternal,
Casa da Cultura
AJUDE A DIVULGAR A CASA DA CULTURA retransmitindo nossas comunicações
a seus amigos e conhecidos.
Obrigado.
Carta de André Masini ao reitor da USP
Excelentíssimo Senhor Reitor da USP, Adolpho José
Melfi,
Venho pela presente, na qualidade de ex-aluno dessa Universidade,
ex-diretor de centro acadêmico, Cidadão Brasileiro,
Funcionário do Poder Executivo Federal, diretor geral
do importante Sítio WEB Cultural e Filosófico
www.casadacultura.org, e membro da grande comunidade de pessoas
que em nosso país lutam por uma sociedade mais ética
e digna, perdir-lhe respeitosamente que reconsidere sua decisão
de sacrificar 64 cães, atualmente hospedados na universidade,
que já receberam inúmeros tratamentos e cuidados
com dinheiro público e estão prontos para a
adoção.
Não há dúvida nenhuma de que toda a sociedade
compreende a dificuldade que existe em se gerir uma Universidade
como a nossa, com os insuficientes recursos que ela recebe.
Porém creio que o ato de sacrificar esses animais não
será proveitoso nem para a Universidade nem para Vossa
Excelência, e marcará para sempre, indelevelmente,
o nome de ambos de maneira negativa.
O extermínio é um caminho simples e prático.
Certamente haverá cientistas e professores que o defenderão,
em nome de algum argumento estreito qualquer. Mas essas pessoas
não têm a mais remota noção de
filosofia ou ética, nem fazem idéia do tamanho
da barbaridade que defendem. Vossa Excelência deve ter
em mente que um respaldo desse gênero não livra
os responsáveis nem da responsabilidade moral pelo
ato, nem do julgamento da história.
Peço-lhe que se lembre de Adolf Hitler, que tinha respaldo
de um grande número de cientistas para suas teorias
sobre superioridade racial; e de sua "solução
final" para o "problema" dos Judeus, que lhe
pareceu na época algo "muito prático".
Mas as conseqüências do genocídio pesam
até hoje sobre todo o povo alemão como uma nuvem
cinza. E o mundo não esqueceu, nem esquecerá.
Rogo-lhe, portanto, com todo respeito e deferência,
que leia meu artigo em anexo, que trata desse tema. Onde procuro
mostrar a face terrível do ato de exterminar cães
sadios, apesar de todos os "argumentos científicos"
em favor desse ato. Peco-lhe que pondere e verifique como
será ainda mais bárbaro o extermínio
de cães que já foram tratados e preparados para
adoção com dinheiro público.
Agradecendo desde já sua atenção, aproveito
a oportunidade para manifestar meus protestos da mais elevada
consideração e estima,
Atenciosamente,
André Carlos Salzano Masini
05/04/2005
(Cópia para o Ilustríssimo Senhor Prefeito do
Campus, Wanderley Messias da Costa)
___________________________________________
MORRER, DORMIR... TALVEZ SONHAR
André C S Masini
Artigo publicado no Jornal O Paraná em 27/abr/2004
Era uma brilhante manhã de sol, e eu acabara de me
sentar à mesa do café. A velha empregada aproximou-se
com olhar triste, meia sem jeito, e contou-me que na calçada,
diante de nosso portão, havia um cãozinho caído.
Corri para o portão, e lá estava ele. Era um
Fox Paulistinha, minha raça favorita. Respirava com
dificuldade e não esboçava qualquer reação
ao ser tocado. Exibia pavorosos sinais de maus-tratos, que
prefiro não descrever.
Entrei e liguei para o veterinário. Ao voltar ao portão,
encontrei duas crianças: uma menina de uns 9 anos e
um menino de uns 6. Estavam sérios, com os olhos tristes
fixos no bichinho. Arfavam, como se suas respirações
pesadas ajudassem o corpo cansado do animalzinho a continuar
respirando. A presença delas ali foi para mim um grande
alívio.
É surpreendente como -- nas questões realmente
essenciais da vida -- coisas terrenas como força, poder,
idade, e intelecto revelam-se insignificantes... A companhia
daquelas crianças, em toda sua fragilidade, teve mais
valor para mim do que se lá tivessem estado presidentes,
reis, cientistas, ou gênios da literatura.
Tem gente que pensa, nestes tempos materialistas, que solidariedade
significa gente rica dar coisas para gente pobre. Mas solidariedade
é muito mais: uma imensa força da natureza humana,
que pode ser o bálsamo para as mais profundas e mais
essenciais feridas da alma. Muitas vezes, o único bálsamo...
Na calçada estávamos eu, o cãozinho
e as duas crianças...
O veterinário chegou, fez um breve exame no bicho,
e, discretamente, deu-me a entender que o caso era sem remédio...
Olhei para as crianças num dilema: elas haviam escolhido
estar ali e tinham absoluto direito de saber a verdade. Mas
eu era um estranho para elas, e revelar-lhes cruamente o terrível
ato que iria ocorrer, talvez fosse rude demais...
Acabei pedindo que fossem chamar sua mãe... que ela
poderia ajudar, etc... Elas partiram correndo.
O cãozinho estava muito mal, já havia sofrido
terrivelmente e era quase um milagre que ainda estivesse vivo,
que tivesse conseguido andar até ali.. Ele havia gastado
suas últimas forças, seus últimos instantes,
sua última intuição... para chegar ao
meu portão, à minha casa...
O veterinário foi claro: não havia nada a fazer
senão sacrificá-lo e abreviar sua agonia.
Pegamos o cãozinho e o colocamos no carro. Quando
íamos partir, as crianças reapareceram, num
carro, com sua mãe, trazendo dois potinhos de plástico
com comida e água. Eu disse que o estávamos
"levando", sem maiores explicações.
Despedi-me com um sorriso amarelo, e nunca mais as vi. Guardo
delas uma lembrança afetuosa, de respeito e solidariedade.
Vida, morte... chegadas, partidas...
Vinte anos antes, em um dia ensolarado como aquele, eu pousara
no aeroporto de Quito, no Equador. Fora para trabalhar, mas
chegara como quem cai do céu, como uma criança
que nasce para um mundo novo. Tudo era novidade: a língua,
os costumes, as cidades, a selva. Aos poucos fui conhecendo
aquele estranho mundo, e ele se foi tornando meu lar, minha
vida.
Após um ano de intenso trabalho, eu estava tão
habituado com aquela vida, que parecia ter estado ali desde
o início dos tempos.
Depois, em uma nova manhã ensolarada, eu e outro geólogo
voltamos àquele aeroporto para nos despedirmos de nosso
mentor, o "velho professor". Num instante ele estava
ali, como "sempre" estivera, e no instante seguinte
havia partido, para sempre.
Voltei do aeroporto em silêncio, olhando pela janela
do ônibus. O dia continuava ensolarado, e a cidade continuava
igual, mas o professor já não estava lá
para ver nada daquilo...
Subitamente me dei conta de que em breve eu próprio
partiria, e também não estaria mais ali, e que
aquelas ruas e casas e selvas tão familiares, aquela
"minha vida", passariam a ser apenas lembranças.
Partidas... morte...
O veterinário aplicou a injeção no coração
do cãozinho.
Em seu instante final, ele saiu do torpor em que estava,
enrijeceu-se e chorou alto, com profundos e sentidos soluços
que jamais esquecerei... a impressão que tive foi que,
apesar de todos sofrimentos que padecera, ele lamentava partir
desta vida... A tristeza e a intensidade daquele momento foram
imensas. Em minha alma ficou gravada, para sempre, a idéia
do apego que o cachorrinho tinha à vida.
Morrer, dormir... talvez sonhar...
Não sei se ele levou lembranças... mas para
ele essa dúvida já não importa nem causa
angústia.
A morte faz parte da vida, parte dessa imensa e maravilhosa
unidade que é a natureza. Não há outra
atitude razoável senão aceitar e respeitar a
morte, seja lá o que ela for. E para nós que
ficamos, resta o bálsamo da solidariedade.
Voltei para casa. O dia continuava brilhante e ensolarado,
e todas as coisas permaneciam como antes: o portão,
a calçada, o mundo... mas o cãozinho já
não estava mais aqui para ver tudo isso.
* * * * *
O objetivo desse texto poderia ser apenas um reflexão
sobre a vida e a morte, mas é mais que isso.
Quando vi aquele heróico cachorrinho -- mesmo irremediavelmente
doente e em imenso sofrimento -- chorar e soluçar por
ter que deixar este mundo, não pude deixar de pensar
nos milhares de outros, que gozam de plena saúde, mas
que são friamente assassinados em nosso nome, por entidades
do Estado Brasileiro, a cada semana.
Essa foi a herança que o cãozinho deixou: um
grito de alerta para que nós, humanos, compreendamos
a imensa brutalidade que é essa matança.
Os cães são os maiores companheiros e o maior
presente que a natureza nos deu. Eles nos amam incondicionalmente,
sua fidelidade é sólida como as mais profundas
fibras de suas almas de heróis (que sacrificam sem
hesitação suas vidas para defender seus donos),
sua alegria e seu carinho são lições
que a cada dia nos ensinam a ser melhores e a viver melhor...
Não tenho idéia de o que fizemos para merecer
tamanho presente...
Deveríamos agradecer a Deus e à natureza esse
presente, e mostrar permanente respeito e carinho por esses
seres infinitamente alegres e amigos, e que amam tanto a vida,
e que a cada dia nos ensinam a amá-la também
.
Mas, ao invés disso, criamos "centros de controle
de zoonoses", as malfadadas "carrocinhas",
que capturam os cães pelas ruas e os assassinam com
bestial frieza!
Às vezes eu penso: o que, afinal, nossa espécie
está fazendo na Terra? aonde queremos chegar? Não
nos contentamos em estar destruindo cada um dos ecossistemas
do planeta, não nos contentamos em nos comportar como
verdadeiros playboys mimados, que -- sem qualquer consciência
ou segundo pensamento sobre o fato de existirem outros seres
-- dilapidamos a herança que a natureza nos deu, numa
verdadeira orgia de inconseqüência. Não.
Além disso tratamos nossos melhores amigos, os cachorros,
como se fossem resíduos descartáveis, não
seres brilhantes e repletos de vida.
Vi outro dia na TV um certo professor da USP afirmando que
a hostilidade da população contra a carrocinha
é devida à "ignorância", pois
a população não sabe que os cães
podem (sic) "causar doenças". Pobre criatura
vaidosa. Do alto de seu pedestal, ele nem sequer cogita a
hipótese de que o ignorante possa na verdade ser ele
próprio. A tal "população",
as pessoas, pode perfeitamente saber da possibilidade de um
cão transmitir uma doença -- bem como da possibilidade
de outro ser humano transmitir uma doença -- mas nem
por isso precisam acreditar que se deve sair por aí
praticando extermínios.
O sábio professor nem percebe que seu raciocínio
brota do mesmo campo de onde brotaram as maiores monstruosidades
da história humana. A mente dissociada do coração
é um mecanismo defeituoso e pervertido, que pode levar
para absolutamente qualquer direção e fazer
estragos sem qualquer limite. Não existe nada mais
ignóbil do que a pseudo-sabedoria, que tenta mostrar
a "lógica" de atos monstruosos através
de argumentos "científicos", mas sem discutir
os aspectos éticos da questão.
A solução para o problema da carrocinha, porém,
não é de modo algum hostilizar os funcionários
da carrocinha, muitos dos quais também sofrem com a
matança dos animais. A solução é
exigir dos políticos que a matança seja proibida
por lei, e seja substituída por programas de esterilização
e adoção, como muitos que já existem
em curso.
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