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Prosa Poética: Hoje inauguramos um
espaço dedicado à Prosa Poética
(ou Poesia em Prosa) em nossa seção
de poesias.
O que é prosa poética?
"Prosa" é um palavra ambígua, pois pode
designar uma forma (um texto escrito sem divisões rítmicas
intencionais -- alheias à sintaxe, e sem grandes preocupações
com ritmo, métrica, rimas, aliterações e outros elementos
sonoros), e pode designar também um tipo de conteúdo
(um texto cuja função lingüística predominante não é a poética,
como por exemplo um livro técnico, um romance, um lei, etc...).
Na acepção relativa à forma, "prosa" contrapõe-se
a "verso"; na acepção relativa ao conteúdo,
"prosa" contrapõe-se a "poesia".
Aristóteles já observava, em sua "Poética",
que nem todo texto escrito em verso é "poesia",
pois na época era comum se usar os versos até em textos de
natureza científica ou filosófica, que nada tinham a ver com
poesia.
Da mesma forma, nem tudo que é escrito em forma
de prosa tem conteúdo de prosa.
O Lingüista Roman Jakobson defini "poesia"
a partir das funções da linguagem: "poesia" é o
texto em que a função poética predomina sobre as demais.
Assim, um texto escrito em forma de prosa pode ser
considerado de "poesia", se sua função principal,
sua finalidade, for poética. A tal texto pode-se dar o nome
de prosa poética ou poesia em prosa.
Pois é "prosa" em sua forma; mas "poesia"
em sua função, em sua essência, nos sentimentos que transmite.
Historicamente, o marco de início da prosa
poética é geralmente associado aos simbolistas franceses,
entre os quais Baudelaire e Mallarmé; em nosso país
esse início também está associado aos
simbolistas, principalmente ao Poeta Negro: o grande Cruz
e Sousa, que tem 5 obras em prosa poética: Tropos
e Fantasias (1893); Missal (1893); Evocações (1898); Outras
Evocações (obra póstuma) e Dispersos (obra póstuma).
A partir do século XX o gênero foi adotado por
muitos poetas e poetisas, de estilos e inclinações muito diversos.
A essas obras está reservado esse novo espaço,
que já de saída inclui algumas obras de poetas
como Cláudio Willer e José Geraldo Neres que
já faziam parte de nosso acervo. Hoje apresentamos
um novo poeta adepto desse gênero: Jorge Amaral.
André Masini
A prosa poética de Jorge
Amaral: Os textos desse professor de Inglês,
formado em Letras pela PUC-Campinas, têm forma de prosa,
mas essência poética. Podem ser lidos tanto como
pequenos contos ou crônicas, quanto como poesia. Neste
Boletim publicamos "Uma página em branco e do
avesso", outras obras do autor podem ser lidas em nosso
site:
[http://www.casadacultura.org/Literatura/Poesia/prosa_poetica/gr01/Prosa_Poetica_E_Preciso_Sim_Tereza.html]
[http://www.casadacultura.org/Literatura/Contos/gr1/Rosa-choque_era_o_vestido.html]
[http://www.casadacultura.org/Literatura/Poesia/prosa_poetica/gr01/Prosa_Poetica_Pagina_em_Branco.html]
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Obrigado.
Uma página em branco e do avesso
Jorge Amaral
Uma página em branco, do avesso, de baixo para cima,
de trás para frente, indiferente. Começo do
início e fim terminal. O esboço em carvão
de um corpo de mulher, deitada em meio a lençóis
alvos, escondida na brancura do papel, fugindo em linhas negras,
esfumaçadas e perigosas, esboçada. Vestígios
de um sonho dobrado que a corta ao meio sem piedade. Rindo
à toa, o sonho afiado se perde nos descaminhos da imagem
refletida pela indubitável transparência. O sonho
é uma navalha a decapitar o real. Uma vez de um lado
não se pode escolher o outro, quando no outro, o outro,
será apenas (des)memória. A cor amarela é
a cor do passado, registra o que já não é.
A mulher, outra em outra, e o papel, suporte desleal, ainda
estão ali, tão unidos e tão (des)iguais.
O papel contém duas verdades em duas mentiras, ou vice-versa.
O destino é sempre um jogo de sorte, talvez, de azar.
A brancura do papel novo encerra em si o desespero futuro:
a amarelidão do papel velho, guardado, esquecido. O
novo é que está no velho e a recíproca
é verdadeira. O desenhista já nem desenha, sequer
existe. Só, a mulher não envelheceu.Dorian Gray
a reclamar a juventude em espasmos de vida imitando a arte.
A mulher é a obra de arte; o papel, o suporte; o artista,
o criador. Óbvio, assim parece; erudição,
se refletido. Pense no espasmo, no criador. Mistério
a penetrar todas as vidas, todas. Dos três, apenas o
artista não morreu, perpetuado em sua mulher no papel
amarelado, abandonada no fundo de um jacarandá a desdenhar,
inconscientemente, do interesse alheio. Eu, jamais envelhecerei!
Será que ela pensa? Um depósito empoeirado e
um tesouro assinado por mãos artífices, criadoras
da mais bela das obras. À noite, quem sabe, ela ou
dance ou se debruce na janela a espiar o mundo lá fora.
Romance! O papel e sua ‘double face’: vida e morte.
A mulher no verso, ou no anverso?, gerada em fluxos de pensamentos
delicados, espontâneos, sábios, filosóficos
e criativos, guiando mãos ultra-sensíveis. Uma
valsa vienense e um sonho partido ao meio como o centro dos
corpos pelos dois gumes da vida.O fio da navalha e a dor do
dedo cortado na borda do papel. De um lado, a marca, do outro,
nada. Transparência afetiva que a todos revela: lembrança.
À meia-noite, desfaz-se o encanto e à fantasia
a realidade.
Escrito entre 11.06.05 e 16.06.05
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