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Os prêmios e a valorização do
escritor (artigo): "Mal lido e não pago,
o autor brasileiro encontra poucos estímulos para a difusão
e o conseqüente reconhecimento de sua obra, a partir da própria
desconsideração e do viés amadorístico com que seu ofício
é tratado." No artigo de hoje, o poeta, ensaísta,
professor e membro da Academia Brasileira de Letras Antonio
Carlos Secchin fala dos revezes do ofício
do escritor em nosso país, mas mostra o estímulo
e os benefícios trazidos pelos concursos literários,
que se multiplicam e oferecem prêmios de valor crescente
aos candidatos vitoriosos.
[Leia
este e outros artigos na Seção de Artigos da
Casa da Cultura]
Esculturas de Marici Bross: Após
muito estudo e trabalho, finalmente, no dia 16 de março,
a Seção de Artes da Casa da Cultura inaugurou
o espaço reservado à Escultura, colocando no
ar a bela e instigante exposição de (imagens
de) esculturas da artista paulistana Marici Bross.
São obras em técnicas diversas, entre as quais
acrílico, vidro, concreto, argila e pedra, cada uma
delas com um comentário da própria artista.
[Veja
a exposição das Esculturas de Marici Bross]
Boletim: periodicidade reduzida durante 2005: O
amigo assinante certamente já notou que nosso Boletim
não tem circulado toda semana. Pedimos desculpas por
isso, mas estamos com alguns problemas de disponibilidade
entre nossa equipe, e, por isso, nosso Boletim deverá
ser editado com periodicidade reduzida (média de duas
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Os prêmios e a valorização do escritor
Antonio Carlos Secchin
Um dos mais ameaçadores adjetivos que, de vez em quando,
rondam a vida de um escritor é ''simbólico'', sobretudo quando
antecedido das palavras ''cachê'', ''pro-labore'' e similares.
Para as intervenções de outros profissionais na esfera da
arte, costuma-se estipular um pagamento, maior ou menor, sem
que seja necessário recorrer ao anteparo do famigerado adjetivo.
Porém, a ''remuneração'' do escritor que participa de um evento
(em que ele mesmo, não raro, é a principal atração) às vezes
reduz-se a uma cama de hotel, a um café da manhã, a uns trocados
para o deslocamento - e estamos conversados. Mal lido e não
pago, o autor brasileiro encontra poucos estímulos para a
difusão e o conseqüente reconhecimento de sua obra, a partir
da própria desconsideração e do viés amadorístico com que
seu ofício é tratado.
Na contramão desse procedimento, há um aspecto, em geral
pouco enfatizado, que me parece bastante positivo para a promoção
profissional do escritor. Refiro-me ao incremento do número
de concursos literários, aliado à bem-vinda elevação dos valores
concedidos aos candidatos vitoriosos. Muitas instituições
culturais, ao promoverem concursos, já estabelecem prêmios
num montante acima do meramente ''simbólico''. Se admitirmos
que uma premiação, para ser considerável, deva alçar-se ao
menos aos cinco dígitos, torna-se alvissareiro perceber que
várias dotações já se situam nesse patamar, ou mesmo o ultrapassam.
Desde alguns anos a Academia Brasileira de Letras vem laureando
nessa escala pecuniária os mais diversos gêneros literários,
revelando autores ou ratificando nomes consagrados. Além dessas
atribuições setorizadas, a ABL concede o Prêmio José Ermírio
de Moraes ao livro considerado como o mais importante do ano,
e confere seu cobiçado Prêmio Machado de Assis a um escritor
de alto relevo para a cultura do país, na área da produção
do pensamento ou da criação artística. Idêntica valoração
do conjunto de obra passou a vigorar, a partir deste ano,
no Prêmio da Biblioteca Nacional, que antes contemplava com
modesta soma um número elevado de categorias. Já na opção
pela multiplicidade de agraciados, é imperativo citar os prêmios
da Associação Paulista de Críticos de Arte, da Câmara do Livro
e o Juca Pato, não pela quantia oferecida, mas pela tradição
e boa acolhida junto ao meio literário.
As searas do jornalismo e do ensaio tendem a ser convivas
secundários e esporádicos nesses festins. A literatura considerada
''de invenção'' (poesia e ficção) prevalece (quando não chega
a ser exclusiva) no regulamento dos maiores concursos do país.
Assim é na Biblioteca Nacional, que se atém a laurear poetas
e ficcionistas. Assim é no Prêmio Portugal Telecom, que, além
de poesia e ficção, ainda abarca a dramaturgia e a crônica.
A propósito, seria de todo desejável que houvesse, por parte
de alguma empresa brasileira instalada em terra lusitana,
um investimento na literatura portuguesa contemporânea, à
guisa de justa reciprocidade ao aporte que nossas letras vêm
recebendo através desse prestigioso prêmio.
Igualmente louvável é a iniciativa da Universidade de Passo
Fundo, ao reservar vultosa premiação (em níveis idênticos
aos da Portugal Telecom e aos da Fundação Conrado Wessel)
ao melhor livro de ficção do ano. E - uma vez que entramos
na esfera regional - não podemos esquecer, entre os principais
concursos municipais e estaduais, os promovidos regularmente
por Belo Horizonte, Juiz de Fora, Salvador e Santa Catarina.
Pode-se objetar que alguns dos mais consideráveis prêmios
não revelam autores, apenas consagram nomes previamente conhecidos;
todavia, seria ingenuidade supor ou pretender que concursos
se prestassem apenas a apontar ''revelações''. O ideal é que
haja o maior espaço possível para a divulgação dos escritores
em todos os níveis de sua carreira, desde a descoberta de
um talento estreante até a reafirmação da excelência de uma
obra madura e consolidada.
Nesse último quesito, destaca-se o Prêmio Camões, por implicar
o reconhecimento, em âmbito transnacional, da produção de
um expoente literário da comunidade lusófona, independentemente
de seu país de origem. Além de ser o concurso de maior dotação,
constitui-se num extraordinário estímulo - ainda não explorado
em todo seu potencial - para que, no Brasil, sejamos mais
receptivos à produção escrita em português de além-fronteiras,
e também para que exportemos parte expressiva de nossa melhor
literatura.
Criado em 1988, o Prêmio Camões já contemplou o moçambicano
Craveirinha, o angolano Pepetela, os lusitanos Miguel Torga,
Vergílio Ferreira, José Saramago, Eduardo Lourenço, Sophia
de Mello Breyner Andresen, Eugênio de Andrade, Maria Velho
da Costa, Agustina Bessa-Luís, e os brasileiros João Cabral
de Melo Neto, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Antonio Candido,
Autran Dourado e Rubem Fonseca, numa admirável amostragem
dos múltiplos gêneros, estilos e culturas que nos caracterizam
como herdeiros de um patrimônio comum, mas ao mesmo tempo
nos revelam em nossas diferenças, na especificidade com que
cada um desses grandes autores respondeu ao desafio de escrever
poemas, ficções e ensaios abastecidos no solo inesgotável
da língua portuguesa.
Este artigo foi publicado
em jornais da grande imprensa em 16/03/2005 e é aqui
reproduzido com autorização do autor.
O autor nasceu no Rio de Janeiro
é poeta, ensaísta e membro da Academia Brasileira de
Letras onde foi eleito para a Cadeira 19 em 03 de junho de
2004. É Doutor em Letras pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro, professor de literatura brasileira das
Universidades de Bordeaux, Roma, Rennes, Mérida e da
Faculdade de Letras da UFRJ
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