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A poesia de Marília Gonçalves. Nesta
edição publicamos duas expressivas poesias Alerta
e Meio-Século dessa portuguesa
que vive na França, cujo estilo único consegue
aliar idéias políticas a sensações
físicas como repulsa, nojo e medo.
Novo e-book gratuito Casa da Cultura: Enleio
o Vagar: ...é um livro ótimo...
não por ser ousado em sua forma, que inclui estilos
bastante diversos... não por ser rico em alusões
eruditas... não por seus interessantes e variados temas...
mas simplesmente porque todos esses seus elementos ganharam
vida por mãos que conhecem a arte da pena. Sim, o livro
é muitíssimo... bem escrito!
Para nós, editores da Casa da Cultura, poder publicar
livros como esse é uma alegria, uma realização,
uma recompensa. Recompensa por nosso longo e permanente trabalho
voluntário.
O livro conta uma história em 5 partes, mescla prosa
e poesia em diferentes estilos e explora temas muito diversos,
com freqüentes referências a mitologias, que vão
da clássica à indígena brasileira e africana.
Enleio O Vagar faz recordar um pouco as histórias heróicas
da tradição oral de povos antigos, como Beowulf,
a Odisséia, Gilgamesh, ou o livro dos maias Popol-Vuh,
mas, sendo uma obra brasileira, tem um tom menos grandioso.
Mas não lhe faltam momentos de ódio ou outros
sentimentos arrebatadores, ou cenas de luta e de sangue. Aos
elementos universais se somam aspectos contemporâneos,
como a relação entre capital e trabalho. No
fim, provavelmente, haverá partes que parecerão
melhores ou piores ao gosto do leitor, mas, o melhor de tudo,
como disse no início, é que o livro é
muito bem escrito!.
Livros como esse são uma raridade nos tempos atuais,
em que a "lógica do mercado" determina publicações
com idéias cada vez mais digeridas e superficiais,
para serem vendidas com promessas de ajudar o leitor a subir
na vida ou não enlouquecer... geralmente escritas em
linguagem tosca... Linguagem que porém passa despercebida,
para quem as lê em meio à turbulência caótica
que parece tentar engolfar a tudo...
André Masini
Conheça o livro, pois realmente vale a pena:
http://www.casadacultura.org/Literatura/ebooks/gr01/ebook_Enleio_O_Vagar.html
A Guerra ainda não acabou. Como nosso
Boletim é um instrumento de divulgação
das novidades culturais da Casa da Cultura, raramente incluímos
nele links externos (os links externos são mantidos
no site, nas páginas dos respectivos assuntos). Porém
aqui está um clipe de uma música sobre a Guerra
do Iraque que merece ser visto. Além da contundente
mensagem e imagens que não deixam margem a dúvidas,
a música é bastante boa. "No bravery":
"And I see no bravery,/ No bravery in your eyes anymore./
Only sadness." Não vejo nenhuma bravura, nenhuma
coragem, nenhum valor, nenhuma galhardia... não vejo
mais em seus olhos (nos olhos dos soldados estadunidenses),
apenas tristeza...
http://nobravery.cf.huffingtonpost.com/
Um abraço fraternal,
Casa da Cultura
AJUDE A DIVULGAR A CASA DA CULTURA retransmitindo nossas comunicações
a seus amigos e conhecidos.
Obrigado.
Alerta
Marília Gonçalves
Grita filha !
há uma aranha
Na brancura da parede
Que peçonhenta tamanha
Vai tecendo sua rede.
Grita filha !
Essa fobia
É protecção natural
Contra a aranha sombria
Que além de símbolo
é mal !
Grita com todas as forças !
Grita porque há mesmo perigo
Essa aranha uma cruz negra
é o pior inimigo.
Por meu amor não te cales !
Grita filha
Tua mãe
Impele-te pra que fales :
Contigo grito também !
Essa aranha que se estende
Tem o passo marcial
Com fúria que surpreende
O incauto em voz fatal.
Grita filha
O bicho imundo
Sai vertiginosamente
Da sombra vinda do fundo
Em veneno de serpente.
Tal a jibóia medonha
Enrola-se abraça o mundo
Pra ir crescendo em peçonha.
Introduz-se em toda a parte
Tudo corrói e desfaz
É inimiga da Arte
Do Ser Humano da Paz.
Grita filha !
Mas tão alto
Num grito tão verdadeiro
Que desperte em sobressalto
O que não quer ver primeiro.
Essa aranha pestilenta
Odeia a própria Cultura
Em fogueira que alimenta
Livro após livro censura.
Opõe à Humanidade
A sua força brutal
Por onde ela passa invade
Mata o constitucional !
É um monstro repelente :
Primeiro ataca o mais fraco
Para ir seguidamente
Oculta em cada buraco
Destruir a Liberdade.
Inimiga da diferença !
Grita !
Minha filha Grita !
Faz ouvir tua presença.
Aponta o bicho feroz
Mostra-o sacode os amigos
Com a força da tua voz !
Grita !
Esse enredo de perigos !
Grita filha ! Desta vez
Esse grito é racional
Porque essa aranha é o não
Ao direito Universal.
Sem medo abre tua boca !
Grita alto ! Grita forte !
Porque toda a força é pouca
Para lutar contra a morte.
Grita ! Grita minha filha
não te cales nunca mais :
não se veja outra Bastilha
Prendendo os próprios jornais !
Que teu grito seja infindo
Circule dê volta ao mundo
Jovem voz entusiástica
Erguendo o povo profundo
Contra a bandeira suástica.
Meio Século
Marília Gonçalves
No tempo em que os cavalos
Tinham patas de vento
O vôo ultrapassava a dor
E as raízes
Quando sonhos azuis
não podiam montá-los
A desenhar o sulco
De térreas cicatrizes.
No tempo em que os cavalos
não escolhiam caminho
Levantavam as crianças
Do solo atraiçoado
No tempo dos cavalos
E das imperatrizes, as leis
Eram sombra de quem ia montado.
No tempo em que os cavalos
Desenharam memória
Da cor da sua cinza
Sobre a cinza dos dias
No tempo em que o terror
Era vê-los, olhá-los
Como vento a passar sobre histórias vazias.
No tempo em que os cavalos
Numa cidade inquieta
Galopavam no tempo
Que não queria parar
Uma mancha de sangue
Desenhava-se preta
Nos dias ressequidos
A perder-se no mar.
No tempo em que os cavalos
Eram maiores que a estrada
Havia vozes cegas
Ou olhos por gritar
No tempo em que eram monstros
Que vinham dispará-los
Sobre a esperança nascida
Que não queria murchar
No tempo dos cavalos
No tempo dos cavalos
Na Pátria ia crescendo
A raiva popular.
Para conhecer mais sobre a autora visite: [Alerta]
[Meio
Século]
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