Alexandre Conti da Fonseca da Livraria Cultura |
Antes de começar a editar meus próprios livros, eu imaginava que as principais dificuldades seriam o projeto gráfico e a produção. Vencida essa etapa, eu descobri que muito mais difícil é a divulgação na imprensa. Então, com o talento e a dedicação de Mônica Xavier, minha excelente assessora de imprensa, também essa barreira foi vencida. Aí eu imaginei que tinha chegado a algum lugar. Cândida ingenuidade! A prova realmente difícil ainda estava por vir. Nesses nossos tempos, onde tudo é padronizado, globalizado, massificado, colocar um livro em uma grande rede de livrarias é uma tarefa quase impossível para um autor-editor como eu. Eu jamais teria imaginado que essas grandes redes fossem recusar meus livros – que são bem produzido, têm boa capa, boa encadernação, e conteúdo de inegável qualidade – oferecidos em consignação! Mas fizeram exatamente isso! Como tenho sido leitor e comprador de livros por mais de 30 anos, e como para mim a principal atração dos livros é o fato de constituírem idéia pura e expontânea direta da fonte, que fica nas prateleiras aguardando por mim; enfim, baseado em minha experiência de leitor-cliente, eu vejo com bastante estranheza a política das grandes redes de limitarem-se a títulos, autores e editoras já consagrados, com expectativa de venda rápida. E como fica o prazer do leitor de passear pelas estantes examinando, selecionando, garimpando? E como fica o encanto de poder escolher algo em meio àquela riquíssima mistura, de todos os tipos de autores e de editoras, de coisas boas com coisas ruins, de livros estranhos com livros padronizados, e de examinar tudo isso segundo o seu exclusivo julgamento e critério? Será que o leitor está disposto a ceder a posição de soberano absoluto para a livraria? Se uma rede de livrarias filtra tão severamente seus títulos, qual escolha ela pretende deixar para o leitor-cliente? E que prazer restará a esse leitor ao percorrer as estantes? O prazer de pegar o best-seller escolhido pela livraria e levá-lo ao caixa? Mas o mais irônico de tudo isso é que "Humanos" tem um enorme potencial de vendas! Potencial comercial no sentido mais prático! Pois em três livrarias, de três amigos meus, o livro vendeu-se sozinho! As pessoas eram atraídas pela capa, pegavam o livro, manuseavam-no, e algumas delas compravam! Para mim era óbvio que bastaria que os compradores das grandes redes fizessem um teste para que percebessem que o livro vendia! Mas depois de algum tempo eu comecei a suspeitar que estava diante de uma barreira intransponível. As pessoas das grandes redes não olhavam para meu livro e não estavam dispostas a falar ou pensar sobre ele. Não vou me alongar aqui relatando as horas que gastei ao telefone tentando falar com alguém que me ouvisse, nem o pouco interesse com que as pessoas me receberam. Vou direto à parte boa da história: o contato com um comprador que faz jus ao nome: Alexandre. Apesar das difíceis experiências anteriores, eu continuei insistindo em ligar para as livrarias. E foi nesse estágio que liguei para a Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos. Fui logo surpreendido por uma atitude extremamente gentil: "Mande o livro para eu dar uma olhada," disse aquele comprador. Foi a primeira demonstração de interesse que recebi de uma livraria... Uma semana depois eu liguei novamente para o Alexandre. Ao identificar quem eu era, ele falou: "Seu livro é muito bom! A capa é muito boa e chama muita atenção! Eu li o livro e gostei muito! Vou comprar dez exemplares!" Eu mal acreditei naquelas palavras. Parecia que eu escutava o canto dos anjos da redenção, que vinham me resgatar do inferno onde eu caíra por engano. Finalmente! Na pessoa do Alexandre eu descobri que ainda existe vida e inteligência nas livrarias. Depois de tantas experiências desanimadoras, eu finalmente encontrara alguém que olhava o livro e que lia o livro. Além de tudo, Alexandre sabia o que estava fazendo. Pois todos os exemplares que ele comprou foram vendidos. Ele fez uma segunda compra, e novamente todos os exemplares foram vendidos. Quer saber a moral da história? Se você quiser achar competência, procure do lado da educação e da gentileza. A outra moral da história é que, hoje, quando quero manusear e comprar livros, vou ou a um sebo ou à Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos. Pois – no dia em que eu tiver que restringir minha leitura aos títulos escolhidos por empresas comerciais – será melhor desistir de ler, e me resignar a ver televisão. Assim, meu caro Alexandre, por sua educação, por sua gentileza, mas acima de tudo por sua extrema competência, Muito obrigado! Para todos os leitores-clientes da Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos, é uma dádiva a presença de uma pessoas como você, que não se restringe ao óbvio e ao já conhecido, e que, por isso, torna sua livraria tão rica e tão interessante. |
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